Vitória (ES): apesar da derrota o PT sai vivo do processo eleitoral

Por Laudiceia Schuaba (*), Fabiana Rocha (**) e Magno Pires (***)

O PT retomou a participação no debate sobre a cidade, buscando resgatar a importância da gestão do PT para todos os segmentos da sociedade; o diferencial entre uma gestão que dialoga com os indivíduos, os grupos e organizações da cidade e uma gestão autoritária de decisões unilaterais como a atual gestão. Esse debate foi bem demarcado e esteve presente no primeiro e no segundo turno.

O fato de termos um candidato que já foi prefeito e teve uma gestão muito bem avaliada com políticas públicas que promoveram grandes avanços na saúde, educação, cultura, segurança, assistência, inclusão, desenvolvimento e urbanização – contemplando a cidade como um todo – ajudou bastante. Estes eixos se tornaram o carro chefe do marketing eleitoral.

Foi uma campanha baseada na capacidade de gestão do João. Porém, escondeu o vermelho do PT e abriu mão de fazer a disputa de projeto político contra o bolsonarismo. A campanha apegou-se somente no que o João já fez e que poderia voltar a fazer contra o candidato opositor, um candidato sem experiência e com pouca história na vida pública partidária – um delegado de polícia eleito deputado estadual nas eleições de 2018.

No primeiro turno o candidato do Republicanos (delegado Lourenzo Pazolini) que estava em 3º lugar nas pesquisas apontou sua metralhadora giratória para o candidato do Cidadania, ex-vereador e também deputado estadual em primeiro mandato. Foi uma chuva de acusações e processos entre os dois, uma campanha de baixíssimo nível, que alçou o delegado ao segundo turno em primeiro lugar, posição que o PT ocupou durante todo o primeiro turno.

Somente no segundo turno que a disputa foi contra o candidato do PT, mais experiente e mais conhecido na cidade e com um recall grandioso de gestor público com capacidade de ouvir a população; mas também com processos de improbidade administrativa contra sua gestão. Na mesma onda dos processos contra gestores do PT, o João também sofreu com denúncias e processos relacionados às obras e desapropriações em sua gestão, tendo os bens bloqueados em 2013. Importante ressaltar que ele foi inocentando em todos os processos julgados até o momento e teve os bens desbloqueados. Porém, a existência desses processos e dos escândalos nacionais contra o PT foram amplamente usados pelo candidato do Republicanos contra o João e o PT. Somado a isso teve o antipetismo e vários erros táticos, os quais levaram à derrota do PT e à vitória do inexperiente e bolsonarista Delegado Lorenzo Pazolini.

O PT na capital capixaba não conseguiu nenhum outro partido para se coligar, mesmo com as possibilidades de eleição sendo analisadas como reais desde da pré-campanha, devido ao histórico da gestão do João e por ter 14 candidatos a prefeito na cidade. A tônica dos políticos e partidos locais foi de isolamento ao PT. Já no segundo turno, partidos como PC do B, PSol, PDT, Rede e parte da militância do PSB vieram para a campanha. Alguns vereadores eleitos e alguns que obtiveram uma votação expressiva também. No caso dos vereadores e candidatos, estes vieram de forma individual, mas não sem antes colocar um grupo de pessoas para serem contratadas pela campanha.

Se no primeiro turno os temas sobre os problemas da cidade tomaram conta da campanha; no segundo turno a máquina das fake news funcionou contra o candidato do PT. Apelou para o antipetismo, para o “partido de ladrões e de corruptos que quebrou o Brasil”. Usaram o tempo de televisão com um informe contendo manchetes de jornais, uma voz fazendo uma narração dos processos contra o João, uma trilha sonora horripilante dizendo que a justiça tinha bloqueado 200 milhões do João e que a gestão do PT está cheia de improbidade administrativa, durante um dia inteiro. Mesmo a campanha conseguindo retirar do ar e conquistando o direito de resposta, a tática deles de manter essa narrativa foi até o dia das eleições, pois eles conseguiram uma liminar na justiça para que o João postasse em suas redes sociais que havia mentido e que existe sim um processo contra ele, e que neste processo há um bloqueio de 200 milhões. Decisão cumprida às 16 horas do domingo no dia 29 de novembro.

Além dos erros de tática no segundo turno, pois continuou com o foco que o João era o experiente e o outro era jovem e inexperiente, sem dar as respostas convincentes e em tempo real necessário às acusações e as fake news contra o partido e o João, a campanha sequer conseguiu expor para a cidade que a eleição do Pazolini era o retorno da era Gatz ao poder; era o retorno do Magno Malta; do deputado Marcos Madureira, cassado junto com Gratz, pois é suplente do Pazolini na assembleia legislativa do Espírito Santo e que o Pazolini é a cara do Bolsonaro em Vitória. A campanha do João não deu conta de fazer essa ligação e se manteve na mesma toada, desde o primeiro turno, apenas se defendendo das acusações e se apresentando como “o experiente e capaz de executar ações que muda a vida das pessoas”.

O PT sai desse processo ainda com a pecha de partido corrupto. Não conseguiu contrapor o opositor que se apresentou como o humilde e que tinha se preparado para ser o prefeito da cidade. Nosso adversário conseguiu convencer que seu histórico de delegado lhe dava as capacidades para lidar com os problemas da segurança; e que Vitória não poderia ser o palco para a volta do PT ao governo. Muitos cards (Cartão de campanha para o WhatsApp) não oficiais da campanha do adversário – demonizando o PT – foram a tônica da campanha dele no WhatsApp. Nas ruas, no segundo turno, havia uma multidão de pessoas contratadas pela campanha do PT, aproximadamente duas mil, foi até “assuntoso”, corroborando com a ideia do “partido com muito dinheiro”. Ao todo, a campanha recebeu R$4.883.611,27 do FEFC. Não é pouca coisa para Vitória.

Por outro lado, o PT resgatou a sua militância, falou de novo para a cidade, teve o apoio dos partidos e de militantes da esquerda local, estadual e nacional. Teve um pouco de

alento, pois elegeu uma vereadora jovem. Saiu-se bem maior que em 2016. Viu surgir uma juventude mais organizada e participativa na campanha desde o primeiro turno. Montou uma chapa de candidatos a vereadoras com mulheres brancas e negras, mulheres jovens da luta popular e intelectuais orgânicas. Homens, brancos e negros, jovens e da terceira idade, das lutas populares, sindicais, sociais, da educação e dos direitos humanos, uma chapa com a cara do PT, que fez a defesa do PT e do Lula. Candidatos/as de diversas regiões da cidade, porém aquém do número que poderia ter, pois teve 20 e poderia terem sido 23, fator que colaborou para a não eleição de um segundo vereador ou vereadora, pois faltaram em torno de 300 votos para essa segunda vaga.

A presença da presidente estadual do PT, a companheira Jakeline Rocha, como vice candidata a prefeita, foi um fator relevante para o diálogo com as comunidades de periferia, com a juventude e com as mulheres. Ela representa esse espectro da mulher negra e jovem na luta política e no empoderamento das mulheres negras.

Apesar da derrota eleitoral, o partido saiu mais vivo dessa disputa em Vitória.

(*) Laudiceia Schuaba é dirigente municipal do PT de Vitória e dirigente estadual da AE.

(**) Fabiana Rocha é integrante do diretório estadual do PT e dirigente estadual da AE do Espírito Santo.

( **) Magno Pires é dirigente municipal do PT em Vila Velha e dirigente estadual da AE.

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