Vitória em Diadema: de volta para o futuro?

Por Licio Lobo (*)

A expectativa era grande no final daquele domingo, dia do segundo turno das eleições municipais de 2020, em frente à sede regional Diadema do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no bairro de Piraporinha.

A militância petista ali reunida acompanhava a apuração num telão, apreensiva com os primeiros resultados negativos que chegavam da apuração dos votos no centro da cidade.

A memória do local evocava lembranças das lutas operárias e populares, de organização e resistência da classe trabalhadora da cidade. Boas lembranças também das comemorações passadas das vitórias eleitorais petistas na cidade.

Fazia tempo que não comemorávamos, a última vez havia sido em 2008. Os minutos passavam lentamente, e a vitória tão esperada, acerca da qual todas e todos estavam confiantes no início do dia, teimava em não se materializar no telão.

A ansiedade dava lugar ao nervosismo na medida em os números positivos tardavam a aparecer, mas afinal eles deram o ar da sua graça nos momentos finais da apuração, para alívio e explosão de alegria da militância que pôde então dar vazão à emoção da vitória e ao grito entalado na garganta há oito anos.

A derrota eleitoral de 2012 interrompeu a série de governos petistas iniciada em 1982 com Gilson Menezes, primeiro prefeito petista eleito no Brasil. A vitória de 2020, com a eleição a prefeito do companheiro Filippi, tendo a companheira Patty Ferreira (PT) como vice, é a sétima conquista do Partido na cidade, e como na maioria das vezes, veio no bojo de uma disputa acirrada com as forças de direita. O concorrente no segundo turno foi Taka Yamauchi, empresário industrial, filiado ao PSD (coligação PTB/PSD/REDE/MDB).

Cada eleição tem a sua história e a vitória de 2020 tem um significado especial e encerra muitas lições e um desafio de grande responsabilidade. No contexto de uma derrota eleitoral e política sofrida pelo partido no país, a vitória em Diadema foi uma das quatro que o partido conseguiu dentre as 15 cidades em que disputou no segundo turno. O PT venceu a eleição com 51,35% dos votos válidos (106.849 votos), contra 48,65% dos votos válidos dados a Taka (101.231 votos).

A soma das abstenções (95.937), brancos (7.859) e nulos (17.295) atingiu 121.091 votos, correspondendo a 36,80% dos 329.170 eleitores aptos a votar. Dos números expostos deriva-se que Filippi foi eleito com os votos de 32,46% do eleitorado, sendo que Taka obteve 30,74% e 36,80% não se manifestou por nenhum dos dois candidatos. Seguindo a tendência nacional as abstenções/nulos/brancos formaram uma maioria relativa.

No primeiro turno Filippi já alcançara expressivos 45,63% dos votos válidos, conforme relação abaixo:

Filippi – PT – 92.670 – 45,63%

Taka – PSD – 31.301 – 15,42%

Ricardo Yoshio – PSDB – 29.726 – 14,64%

Pretinho – DEM – 20.524 – 10,11%

Ronaldo – PDT – 10.684 – 5,26%

Marcos Michels – PSB – 5.578 – 2,75%

Gesiel – Republicanos – 5.054 – 2,49%

Denise Ventrice – PRTB – 1.882 – 0,93%

Rafaela – PSOL – 1.835 – 0,90%

Jhonny Rich – PSL – 1.532 – 0,75%

Arquiteto Davi – PSC – 1.378 – 0,68%

Dr Airton – PMN – 485 – 0,24%

Ivanci – PSTU – 360 – 0,18%

Interessante observar que no 1º turno a soma das abstenções (85.406/25,95%), nulos (24.765/7,52%) e brancos (15.980/4,85%) foi de 126.151 (38,32% dos 329.170 eleitores), soma esta ligeiramente maior que a observada no segundo turno, com a significativa diferença que, no segundo, turno cresceram as abstenções, mas diminuíram muito os votos nulos e brancos, ou seja: parte do eleitorado que foi ao primeiro turno não compareceu ao segundo; e parte importante que havia anulado ou votado em branco no primeiro turno, votou em um dos candidatos no segundo turno.

Comparando as votações de primeiro e segundo turno, temos que Filippi passou de 92.670 para 106.849 (+ 14.178 votos/+15,30%) e Taka passou de 31.301 votos para 101.231 (+69.930 votos/+223,00%).

Uma análise completa poderá ser feita com o exame detalhado do resultado em cada local de votação, apurando-se a incidência das abstenções e votos nulos/brancos em cada local e as possíveis transferências de voto observáveis entre as candidaturas de primeiro turno para aquelas que disputaram o segundo turno.

Numa primeira aproximação, é possível afirmar que a amplitude da aliança, que incluiu partidos golpistas (Solidariedade/PL/PT/Avante/Patriota) não levou à vitória no primeiro turno, segundo era a intenção da tática defendida pela maioria do partido contra a posição minoritária da AE e outras tendências que votaram contra tal aliança. É incerto ainda afirmar até que ponto os votos dados aos candidatos a vereador destes partidos “aliados” no primeiro turno se transferiram ao candidato a prefeito da coligação.

O fato é que, no segundo turno, a migração de votos foi massiva para a candidatura adversária do PSD, sendo seguro apenas que os votos dados às candidaturas do PDT (Ronaldo Lacerda) e PSol (Rafaela) se transferiram de forma substancial para Filippi no segundo turno, garantindo uma vitória por pequena margem de votos.

A campanha do primeiro e do segundo turno foi marcada por uma intensa atividade da militância petista, que vertebrou os combates políticos nos vários espaços da cidade. É importante registrar que não obstante a intensa militância da base partidária, a ênfase na linha de campanha foi focada na pauta municipal: o questionamento do fracasso retumbante do governo municipal ligado ao PV, que descontruiu em oito anos as políticas públicas desenvolvidas na cidade durante os governos petistas desde 1982.

Esteve praticamente ausente da campanha majoritária o questionamento da ordem política estabelecida no país com o golpe de 2016 e com o governo Bolsonaro e não se fez a necessária e imprescindível ligação da situação da cidade e da vida do povo com a pauta nacional.

No segundo turno, a campanha foi prejudicada pela ausência de um debate político no Diretório Municipal sobre a linha política a ser adotada frente à intensa propaganda antipetista desenvolvida pelo inimigo diuturnamente e pelos mais variados meios. Frente a estes ataques, a campanha não reagiu à altura de forma política, como seria necessário fazer, defendendo o PT e partindo para o ataque, fazendo a ligação da campanha inimiga com a política de terra arrasada do governo Bolsonaro e seus ataques à população trabalhadora. A opção foi dobrar a aposta na linha da defesa das qualidades “administrativas” da nossa candidatura.

Fato é que a pregação do inimigo “colou” no centro da cidade que concentra a população de maior renda e se insinuou perigosamente também na periferia onde havíamos vencido com larga margem no primeiro turno. Vencemos ao final com os votos da população mais pobre das periferias que conferiu um voto de confiança ao histórico da atuação do PT na cidade ao longo dos anos.

A tarefa colocada agora é nos apoiarmos na vitória e na confiança depositada por este setor da população para fazermos um governo que reate com as lições do modo petista de governar, que fez de Diadema uma referência na construção de políticas públicas participativas voltadas para o atendimento das necessidades da população trabalhadora da cidade. Isto incluir uma formação de governo que não fique presa em uma política de “governabilidade” focada no parlamento com maioria de políticos de direita e ligados a interesses particulares.

É necessário construir uma lógica de outra governabilidade, focada na aliança com os setores estratégicos da classe trabalhadora da cidade, com o funcionalismo público, com os movimentos sindical e popular, com a juventude e com as organizações de luta dos setores oprimidos. Um governo construído com base nestas alianças será capaz de contribuir para o reatamento do PT com a classe trabalhadora e para a luta geral contra o fascismo e o ultraliberalismo que ditam as regras atualmente e são o inimigo a derrotar.

Para ajudar o governo que assumirá no dia primeiro de janeiro de 2021 a dar conta desta tarefa, a militância petista de Diadema estará em posição de combate, pronta a dar os enfrentamentos que forem necessários e para tanto poderemos contar com um apoio importante da bancada de vereadores petistas.

O PT teve uma vitória importante na eleição para a Câmara Municipal de Diadema, elegendo 5 vereadores/as e formando a maior bancada (PT – 5 ; Cidadania – 3; DEM – 2; PSB – 2; PV – 2; PROS – 2; PSD – 1; Podemos – 1; Republicanos – 1; PDT – 1; PSDB – 1). Dentre os vereadores eleitos pelo PT está o companheiro Neno, militante da tendência petista Articulação de Esquerda, eleito numa campanha militante que foi impulsionada por centenas de ativistas e militantes do movimento sindical e do movimento popular das áreas de moradia, cultura, esportes, educação, saúde, juventude, mulheres, luta antirracista e luta LGBTQIA+.

Neno

O caminho está aberto para que retomemos a via da construção de uma cidade das trabalhadoras e dos trabalhadores. De novo, como no longínquo 1982, Diadema ressurge como esperança de um novo futuro: que seja vermelho como a esperança do nosso povo.

(*) Licio Lobo é militante do PT Diadema.


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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