Tocantins: avaliação das eleições 2020

Por Hilton Faria da Silva (*)

Página 13 publica, nesta edição, uma versão adaptada da resolução “Avaliação das eleições 2020 no Brasil e no Tocantins: precisamos de mobilização, organização e luta para derrotar o capitalismo”, aprovada pela direção estadual da AE Tocantins, sobre as eleições naquele estado.

Saudamos toda a militância que se engajou nas campanhas do PT. Saudamos todas as nossas candidaturas às prefeituras e câmaras municipais, tanto aquelas que foram vitoriosas, quanto aquelas que foram eleitoralmente derrotadas.

E saudamos os milhões de brasileiros e de brasileiras que foram votar e deram seu apoio à esquerda, especialmente ao Partido dos Trabalhadores.

Bolsonaro perdeu. Ele não conseguiu organizar o seu partido, o 38. Se não a derrota seria maior ainda.

Praticamente todos os candidatos a prefeito que Bolsonaro apoiou nas capitais e grandes cidades perderam. Nas 96 maiores cidades que tem segundo turno, o bolsonarismo teve poucas vitórias. Os bolsonaristas só ganharam em pequenas cidades.

A direita neoliberal golpista, chamada de centrão, tem apoio da mídia patronal e teve a maioria dos votos nas grandes e pequenas cidades. O centrão teve candidatos em todas as cidades e isso já garante uma grande votação para prefeito e vereador.

A direita neoliberal golpista foi a maior vitoriosa (MDB, PSDB, DEM, PSD, PP e outros) pois tiveram maior número de votos, maior número de prefeitos e maior número de vereadores eleitos. MDB, PSDB e DEM tiveram quase 30 milhões de votos para prefeito.

Temos que lembrar que nas eleições anteriores, o centrão também já tinha a maioria das cidades, principalmente as pequenas.

A centro-esquerda (PSB, PDT e Rede) diminuiu a votação em relação a 2016. A centro-esquerda teve 10,9 milhões de votos em 2020.

A esquerda (PT, PSOL e PCdoB) teve candidatos na maioria das cidades. PT, PCdoB e o PSOL somados tiveram 10,4 milhões de votos para prefeito.

O PT participou do processo eleitoral em 2.902 cidades com chapas proporcionais, com 1.256 candidaturas às prefeituras, 1.292 candidaturas à vice prefeituras e 28.900 candidaturas à vereança. Portanto, em mais da metade dos municípios brasileiros tivemos militantes e simpatizantes na defesa do voto petista. Mas isso ainda é pouco para enfrentarmos a direita que está organizada em todas as cidades.

Em nível nacional, o PT aumentou a votação para prefeito em relação à 2016. Se tirarmos São Paulo (onde diminuiu nossa votação para prefeito), o aumento é maior, cerca de 680 mil votos a mais.

PCdoB teve menos votos para prefeito em 2020 que em 2016. PSOL cresceu.

Em relação ao número de vereadores, o PT diminuiu o número de eleitos. A direita cresceu.

Na cidade de São Paulo, o PT fez 8,5% para prefeito e mais de 15% dos votos para vereadores. Mas isso não tem relação direta com a votação nacional. Em 2016, o PT perdeu para prefeito em São Paulo, e em 2018 fomos ao segundo turno para Presidente com Haddad.

No segundo turno, a nível Nacional, o PT é o partido que está mais presente, com 15 candidatos nas 57 cidades. Em 2016, estivemos presentes em apenas sete cidades no segundo turno. Também somos o partido que tem maior quantidade de vereadores nas cidades acima de 500 mil eleitores.

Como já está em curso um balanço no qual alguns setores tentam naturalizar a ideia de que o PT foi ferido de morte, enquanto outros setores tentam passar a ideia de que o partido obteve um ótimo resultado, nos vemos na necessidade de apresentar esse balanço preliminar que segue.

Em números aproximados, portanto, 77 milhões de pessoas (ou 77% dos votos válidos) optaram por candidaturas patrocinadas por partidos que estão à direita. Se não quisermos enganar a nós mesmos, a análise política do resultado eleitoral deve levar isso em conta.

Seja como for, os números do primeiro turno são claros: os partidos de direita tradicionais (MDB, DEM, PSDB, PSD, PP e similares) elegeram o maior número de prefeitos e prefeitas, de vereadores e de vereadoras, e obtiveram o maior número de votos. Sendo que o MDB e o PSDB perderam grande número de votos, enquanto o DEM, o PP e o PSD cresceram.

Quanto ao número de vereadores, o PT elegeu 2609, o PSOL 88 e o PCdoB 678. Seja como for, a avaliação (verbalizada por setores da direita, como o ex-ministro Sérgio Moro, pela grande mídia e também por analistas de esquerda) acerca da ascensão de uma esquerda alternativa ao PT não encontra respaldo nos números do primeiro turno.

Mas a ênfase nos problemas do PT não pode desviar nossa atenção para um problema muito maior: a redução dos votos dados para a esquerda em geral. Em 2012 PT, PSOL e PCdoB conquistaram 21.688.830 votos para prefeito; em 2016, os três partidos conquistaram 10.883.557 votos; em 2020, os três partidos conquistaram 10.392.018 votos. Estes números indicam, portanto, que o fenômeno principal, em 2020, não é o de uma transferência de votos do PT para outros partidos de esquerda, mas sim o da transferência de votos do PT para fora da esquerda (outros partidos, abstenção, brancos, nulos).

Neste sentido, a afirmação feita pelo presidente nacional do PSOL, na edição de 17 de novembro do jornal Correio Braziliense, de que seu partido “sem dúvida, cresceu muito e saiu credenciado para liderar um processo de renovação da esquerda no Brasil” é não apenas inapropriada – considerando a importância do PT no processo eleitoral em Belém e São Paulo; mais importante que isso, a declaração do presidente do PSOL incorre no mesmo equívoco em que tropeça um amplo setor do PT: o de acreditar que a “renovação da esquerda” resultará de movimentações eleitorais, e não das lutas sociais e da reconquista ideológica e orgânica da classe trabalhadora.

Cabe no nosso balanço debater por quais motivos não crescemos tanto quando poderíamos. Entre os motivos, destacamos: a tática de municipalização das campanhas; a tática adotada pelos governadores e por muitos dos parlamentares federais e estaduais; a tática adotada em São Paulo capital e também em Belo Horizonte.

O desempenho do partido em vários dos estados governados pelo PT revela, mais uma vez, que a mal denominada política de governabilidade gera desacumulo no desempenho eleitoral do partido. É o caso do Ceará (em que o governador fez campanha para a candidatura do PDT); e o caso da Bahia (em que o governador articulou uma tática desastrosa em Salvador).

O resultado da campanha eleitoral confirmou que o companheiro Fernando Haddad deveria ter sido candidato a prefeito. Mas o Diretório Nacional do PT decidiu, pelo voto da maioria de seus integrantes, que não convocaria o companheiro Haddad para esta tarefa. Ao agir assim, o DN aceitou que os interesses individuais se sobrepusessem às necessidades coletivas; não é de admirar que o desfecho disso tenha sido que muita gente achasse ser natural desrespeitar a posição do Partido. Seja como for, no segundo turno, fomos todos Boulos.

Mas podemos adiantar, desde já, que a existência de várias candidaturas de esquerda (tanto em SP quanto em outras capitais) não impediu uma delas de ir ao segundo turno, como quis fazer-se crer em muitas análises e operações políticas, inclusive na esquerda e centro-esquerda. Aliás, a existência de mais de uma candidatura majoritária da esquerda foi um fator importante, em muitas cidades, para viabilizar o segundo turno, para disputar votos com a direita, para manter ou ampliar as bancadas de esquerda.

Será preciso analisar com mais detalhes, mas importantes vitórias nos legislativos em muitas capitais e grandes cidades sinalizam para uma renovação na representação da esquerda, com maior participação de mulheres, negros, LGBTQIA+ e jovens.

O PT fez campanha, no fundamental, com recursos públicos, enquanto a direita usou e abusou de recursos privados; por isso, era tão importante acertar na distribuição dos recursos públicos.

Qualquer que seja o resultado do segundo turno, o Governo Bolsonaro enfrenta novo momento de crise após relativa estabilidade e até certo fortalecimento nos últimos meses. Frise-se que as ilusões na constituição de uma Frente Ampla, a demora em adotar a consigna Fora Bolsonaro e a concentração na oposição parlamentar constituíram erros graves que contribuíram para a relativa estabilidade e fortalecimento do presidente.

Apesar da pandemia, a massa da classe trabalhadora deu continuidade à dura luta pela sobrevivência. Mas parte importante da vanguarda se resguardou. Iniciado o calendário eleitoral, mesmo sem ter sido superada a crise pandêmica, parte importante da vanguarda foi às ruas. É preciso dar continuidade ao contato com as massas. O anúncio presidencial de desprezo pela vacina contra o COVID-19 e manutenção da agenda neoliberal indicam que manter e aumentar a mobilização trata-se, literalmente, de questão de vida ou morte.

Por isso, é preciso combinar a luta eleitoral no segundo turno, onde houver, com a manutenção da mobilização militante nas ruas, no resto do país, pelo Fora Bolsonaro e por um Brasil Democrático, Popular e Socialista.  Sem mobilização social, finalizaremos o fatídico ano de 2020 com, mais uma vez, a perda de outra “janela histórica”, no mesmo ano, para a derrubada do governo Bolsonaro e abertura de um novo ciclo no país.

O resultado eleitoral confirma a necessidade de o PT alterar sua estratégia e alterar seu padrão de funcionamento. Qualquer que seja o resultado do segundo turno, 2021 tem que ser o ano do reposicionamento estratégico do PT. A direção eleita em 2019 precisa ser renovada. E a linha política precisa ser profundamente alterada.

No Estado do Tocantins, o PT não tinha nenhum prefeito, pois os dois eleitos em 2016 saíram do partido. Agora temos quatro prefeitos eleitos. Porém, caímos de 54 vereadores para 40 eleitos.

PSOL e PCdoB não têm nenhum prefeito e nenhum vereador eleito.

Das 10 maiores cidades do Tocantins, o único prefeito declaradamente bolsonarista eleito é o de Colinas (Kasarin).

27 partidos disputaram as eleições no Tocantins. DEM, MDB, PSD, SD e PTB com maior números de candidatos a prefeito. PMB, PCdoB, PTC e REDE disputaram apenas em um município.

O PT foi o sexto partido em número de candidaturas majoritárias e ficou em décimo em número de prefeitos eleitos. Os cinco partidos que mais lançaram chapa majoritária foram também os que mais elegeram prefeitos e prefeitas. Os resultados mostram as forças do governo Bolsonaro e Carlesse. Por exemplo: o DEM tem o governador, dois deputados federais e um estadual; o MDB tem uma deputada federal, um senador e 4 deputados estaduais; e o PSD tem um Senador.

O PT ainda lançou 19 candidatos a vice prefeito, a maioria em chapa pura. Poucos foram os municípios que o PT como cabeça de chapa fez coligação com outros partidos. Os 4 prefeitos eleitos pelo PT têm vices de outro partido. Em Abreulândia, o prefeito Manoel Moura tem como vice o Professor Eldison Cunha do MDB; em Dianópolis, o prefeito José Salomão tem o vice Aurélio, do PSD; em Rio da Conceição a prefeita Edinalva Ramos tem o vice prefeito Gilson Lopes, do PSD; e em São Salvador, o prefeito Edimar da Construção tem o vice prefeito Danilo, do PCdoB.

O PT elegeu 3 vices prefeitos em coligação com outros partidos: em Campos Lindos, o agricultor familiar Bartolomeu é vice do prefeito Romeu, do SD; em Ponte Alta do Tocantins a Juliana é vice prefeita do Kleber do Sacolão, do PSD; e em Recursolândia, o Sindicalista e Agricultor Familiar Domingos do Barro Alto é o vice prefeito do Vinicius do MDB.

A Articulação de Esquerda defendeu que o fundo eleitoral fosse distribuído entre todas as candidaturas do PT a prefeito e vereador e não só nas cidades que tinham prefeitos/as do partido, conforme havíamos discutido e falado em todas as cidades entre 2017 e 2020. Infelizmente, os recursos foram concentrados apenas nessas cidades por votação do Diretório Estadual.

Houve compra de votos em todas as cidades, pois os partidos de direita não têm argumentos para ganhar eleição, apenas o dinheiro. Foram relatados casos de compra de votos no estado todo.

A candidatura de petistas e simpatizantes por outros partidos tirou milhares de votos de nosso partido e reduziu nossa bancada de vereadores. Em todas as cidades isso aconteceu.

É preciso investir na formação de nossos/as filiados/as e de nossos/as candidatos/as a qualquer cargo (sindicato, associação, etc) para poder realizar um trabalho de base constante com organização, mobilização e luta da classe trabalhadora.

A desarticulação das lutas populares devido à pandemia e devido à pouca atividade de rua durante a campanha também tiraram votos de nosso partido. Como não compramos votos, a única saída que temos é a organização e a mobilização da classe trabalhadora. Sempre que a classe trabalhadora para de se mobilizar, o PT se enfraquece.

A desorganização da classe trabalhadora nos cobra uma atitude. Ou mobilizamos e organizamos nossa classe ou teremos uma sequência de derrotas, como a reforma da previdência. Os projetos do bolsonarismo e da burguesia querem ampliar a superexploração da classe trabalhadora, destruir os direitos trabalhistas, destruir a reforma agrária, o direito à moradia e impedir o povo de se mobilizar. Qual é nossa opção: aceitar sermos destruídos ou lutar? Quando a classe trabalhadora luta, obtém conquistas. Quanto aceita ser dominada e ser dividida, perde o que conquistou.

Propomos reunião do diretório estadual com os diretórios municipais, aberta a todos/as os/as filiados/as para avaliar essas eleições, discutir nossa organização e preparar os próximos combates, pois a classe dominante quer nos destruir, juntamente com os direitos da classe trabalhadora.

Propomos também que o diretório estadual faça acompanhamento político dos mandatos de prefeitos/as e vereadores/as petistas do Tocantins, contribuindo com a linha política dos mandatos, demarcando nosso campo contra o bolsonarismo e a destruição dos direitos sociais.

(*) Hilton Faria da Silva é secretário de formação do PT no Tocantins e ex-vereador de Palmas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *