Socialdemocracia ou um “novo Estado”?

Por Marcos Aurélio da Silva (*)

Leonardo Attuch escreveu uma alvissareira notícia no 247, dando conta dos primeiros passos de uma frente antibolsonarista para 2022 com Lula, Haddad, Dino e a incluir o Psol. Faço um único reparo: chamar essa frente de uma frente “social-democrática” é uma limitação de saída. A socialdemocracia se caracteriza por confiar o poder do Estado à burguesia, o que é insuficiente para o contexto em que nos encontramos.

Não há dúvida quanto à existência socialdemocratas nos agrupamentos políticos citados, e não devemos lutar contra eles (o alvo é a extrema-direita). Mas o projeto no seu todo — e justamente porque necessita apresentar-se como um todo, uma totalidade — deve ir além dessa limitação, fazendo justiça à simbologia dos próprios agrupamentos políticos que reúne — e que a rigor não podem ficar limitados só à simbologia, como na política pós-moderna, que tudo reduz à simples hermenêutica.

Certamente, é imprescindível que um projeto dessa natureza renuncie a toda forma de impaciência, sendo pensado antes como um processo de longo prazo, ao qual são inerentes inevitáveis contradições.

Trata-se, todavia, de um projeto que não deve abdicar da fundação de um Novo Estado, tarefa maior dos programas do agrupamento político que o encabeça. E assim, portanto, de uma nova Constituição, sem teto de gastos, sem tutela militar e capaz de sustentar os direitos do trabalho e o reconhecimento dos direitos civis em geral.

(*) Marcos Aurélio da Silva é professor da UFSC


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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