Situação política no Peru exige vigilância contra tentativas de golpes

Por Página 13 (*)

A apuração dos votos do segundo turno nas eleições presidenciais do Peru ainda estão em curso. A diferença,  no início da tarde desta terça-feira (8), está em 75 mil votos (0,44%) a favor de Pedro Castillo sobre Keiko Fujimori, com 97,1% das atas apuradas.  À medida que se aproxima do final da apuração, a tensão no país cresce e não está descartada que a direita e extrema-direita no país, como apoio dos EUA, intentem um golpe para impedir a vitória da esquerda peruana.

A jornalista do El País, Jacqueline Fowks, denunciou um áudio do cônsul peruano em Hartford, nos EUA, Eduardo González, onde ele dizia a seu interlocutor que a diferença de votos a favor de Fujimori estavam nos centros de votação no exterior e menciona os votos de Miami. Ainda diz, “aqui vai estar a diferença. Eu confio que ganhe keiko, mesmo que seja pelo mínimo”. A veracidade do áudio foi confirmada pelo governo peruano que, em mensagem anterior, havia dito que o funcionário do consulado (interlocutor do áudio) seria o responsável por transportar as atas para Lima. Depois informou que o responsável seria o cônsul-adjunto.

Nas redes sociais, a jornalista escreveu: “En el audio al que aludí esta tarde, cuya veracidad confirmó @CancilleriaPeru , el cónsul del Perú en Hartford, Eduardo Gonzalez decía a su interlocutor que la diferencia de votos a favor de Fujimori estaba en las actas de centros de votación del extranjero con más de 20 mesas. El cónsul de Hartford mencionaba el número de mesas en Miami, las de su jurisdicción -56- y otras, y añadía: “ahí va a estar la diferencia. Yo confío en que gane Keiko, aunque sea por mínimo. La china tiene que empezar bien, haciendo un llamado a la unidad” (aqui).

Essa denúncia gera preocupações, pois a maior parte dos votos ainda a serem apurados são exatamente do exterior e a diferença é muito pequena entre os candidatos.

A segunda preocupação é a denuncia sem provas de Keiko Fujimori de  fraude eleitoral.  A cobertura da maior parte da mídia tem sido uma campanha horrível de apoio à Keiko Fujimori e de combate a Pedro Castillo.  Os comícios de Keiko foram transmitidos na íntegra, os de Castillo não existiam ou no máximo uma notícia de 30 segundos. Os próprios observadores internacionais têm demonstrado preocupação com esse “desiquilíbrio” na cobertura.

Hoje, capas de vários jornais estamparam a “denúncia” de Keiko Fujimori:

Observadores chamam atenção para o desequilíbrio da cobertura:

Em reportagem publicada no El País , Jacqueline Fowks escreve que “Keiko Fujimori abalou a reta final da contagem de votos no Peru com suas suspeitas A candidata conservadora havia garantido durante a campanha que aceitaria os resultados, mas no momento da verdade questionou o processo. Fujimori compareceu em entrevista coletiva nesta segunda-feira, quando Pedro Castillo tinha 95 mil votos à frente e aguardava as cédulas de peruanos no exterior, para denunciar que tem indícios de irregularidades na contagem que configurariam fraude eleitoral. A política não apresentou nenhuma evidência para sugerir que este seja realmente o caso.”

A situação no Peru exige vigilância e mobilização das forças democráticas e populares do país – e fora dele – para possíveis tentativas de golpes que visem impedir a vitória de Pedro Castillo e da esquerda peruana, seja manobrando a pequena margem que dá vantagem ao candidato com atas “estranhas” ao processo, seja na tentativa de criar um clima para impedir o reconhecimento e a legitimidade de uma vitória de Castillo.

(*) redacao@pagina13.org.br

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