Reflexões sobre as declarações de Haddad a Bial

Por Lucas Rafael Chianello (*)

O candidato a presidente pelo PT em 2018 em substituição a Lula esteve no programa Conversa Com Bial na emissora oficial do golpe de 1964.

Na história, algumas coisas não são informadas imediatamente.

Num determinado trecho, Fernando Haddad revelou como foram as tratativas com Ciro Gomes sobre um possível apoio a ele: em conversa com Mangabeira Unger e outras pessoas em sua casa, foi oferecida a Ciro a vice-presidência na chapa presidencial, com a assunção automática da candidatura à presidência, com apoio do PT, no caso de Lula ser interditado judicialmente.

O ex-senador pelo MDB do Paraná, Roberto Requião, confirmou as informações de Haddad em sua conta no Twitter.

Lula foi interditado, mas Ciro já tinha lançado sua própria chapa com Kátia Abreu como vice e seu exército de internautas passou o primeiro turno interpelando os petistas a deliberarem pelo voto útil porque em tese Ciro venceria Bolsonaro no segundo turno mesmo sem votos no primeiro turno.

Com a palavra, os matemáticos.

Após a entrevista de Haddad a Pedro Bial, os eleitores de Ciro passam vergonha a posteriori, pois o que propunham foi recusado por seu próprio candidato.

O PT correu seríssimo risco com o acordo que ele mesmo propôs.

A coordenação de economia do programa da candidatura Ciro/PDT já tinha proposto a privatização de 77 estatais, apesar de excluir o Branco do Brasil, a Petrobras e a Eletrobras.

Também era programa da candidatura Ciro/PDT a instituição de um regime de capitalização da previdência.

O programa do PT não acenava dessa maneira aos “setores médios” da população brasileira.

Ciro não aceitou a proposta de ser vice de Lula, de assumir a cabeça de chapa se Lula fosse interditado, subiu 0,5% de votos de 2002 a 2018 e foi comer croissant em Paris no segundo turno enquanto eu tomava batida de portão na cara nos bairros daqui de Poços de Caldas quando, ao panfletar, ouvia um alto e irredutível não de eleitores fiéis ao nazi-presidente.

Com Bolsonaro eleito, Ciro passou a destilar seu ódio contra o PT, o mesmo PT que lhe ofereceu a cabeça de chapa caso Lula fosse interditado judicialmente.

Após foto de divulgação de encontro de Lula com Cid Gomes, Ivo Gomes, prefeito de Sobral (CE), irmão de Ciro e Cid, sugeriu nas redes sociais que Lula é ladrão ao recomendar ironicamente a Cid cuidado com a carteira.

Expediente tipicamente nazi-fascista, despeitado e rasteiro.

O mesmo Lula que disse, num primeiro momento, que Ciro era um ser humano que valia a pena, é o Lula que precisou dizer, posteriormente, que Ciro precisava respeitar mais as pessoas.

A entrevista de Haddad, avalizada por Roberto Requião, derramou a pá de cal sobre um suposto sectarismo eleitoral: não foi o PT que se recusou a apoiar Ciro, mas Ciro que recusou o apoio.

Derrotado política, eleitoral e moralmente, resta a Ciro publicar impropérios a cada vez que abre a boca para falar sobre Lula e o PT.

Ainda mais agora.

Com a revelação de Haddad, a patifaria tornou-se insustentável e flagrante.

(*) Lucas Rafael Chianello é advogado, jornalista e membro da DEAE MG.

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