Política sem reciprocidade, não é generosidade. É ingenuidade

Por Rafael Tomyama*

Não raro discordo do governador Camilo internamente ao PT, sobre muitos assuntos, embora pareça que ele tenha sempre preferido incidir sobre a política partidária em fóruns distintos aos dos debates da militância ou mesmo aos de suas instâncias internas.

Mas desta vez, vou ter que concordar com o teor da declaração atribuída a ele e que estampa a manchete de matéria no jornal O Povo, do Ceará: “É preciso deixar as vaidades e mágoas de lado”. Embora creio que cheguemos a conclusões distintas sobre a tática eleitoral, partindo desta premissa.

A entrevista do governador aos colegas Erick Guimarães e João Marcelo Sena está transcrita na página 8 do caderno de Política do periódico cearense: https://mais.opovo.com.br/jornal/dom/2020/07/12/e-preciso-deixar-vaidades-e-magoas-de-lado—diz-camilo-sobre-acordo-pt-pdt.html

Ressalvo que divergir faz parte da lida democrática. A própria Luizianne vez por outra lembra de nossas pelejas na época do Movimento Estudantil, nas gestões distintas Diretório Central da UFC. Apesar disso, ela deve recordar que sempre fomos grandes companheiros na vida pessoal, depois das reuniões em que havia discussões, digamos, animadas. Sempre nos tratamos com franqueza, respeito e jamais traição, diferentemente de muitos que passaram por nossas vidas.

Suponho, portanto, que o mesmo apelo de generosidade que Camilo oferece às lideranças partidárias, também possa aplicar a si mesmo. Já passou da hora do governador respeitar a soberania da militância petista, que decidiu por esmagadora maioria pela pré-candidatura de Luizianne Lins na capital.

Esta obsessão em colocar o PT a reboque dos desígnios do clã Ferreira Gomes no Ceará, como se diz, “não tem jeito que dê jeito”. Assim como não cola para o PT em nível nacional as insistentes tentativas de Camilo de descredenciar Lula como principal liderança petista, para submeter o projeto nacional do PT aos humores de Ciro Gomes.

As bases de um eventual diálogo a ser aberto, como propõe, teriam que ser colocadas muito francamente. O momento é sim de se discutir possibilidades com transparência, em torno de nomes, e não de se esconder o jogo. Sem partir do patamar atual, como se fosse um jogo de faz-de-conta, não dá para nem pensar em re-abrir a discussão (para sacar algum coelho da cartola no último minuto, como aliás já houve).

Em todo país, os diretórios municipais do PT estão decidindo legitimamente os nomes de suas pré-candidaturas. Discutir nomes é discutir projetos e quem vai realizá-los. Por quais razões e para quem. Por que essa escolha do nome do PT, em que há uma definição praticamente consensual em torno da tese da candidatura própria e de que Luizianne venha a ser essa candidata, não seria válida só em Fortaleza?

O que nos falta não decorre de um problema de “vaidades” e sim discutir programas e políticas que realmente interessem à classe trabalhadora: a saúde, a segurança cidadã, o trabalho e a renda, a preservação ambiental para salvar o planeta e milhões de vidas: bichos, plantas e gente.

Neste sentido, tudo isso só é possível quando temos o partido e nossas organizações de classe como espaços de construções de projetos coletivos. Não seguimos os caprichos do caciquismo de oligarcas personalistas, que querem colocar o mundo em função de seus projetos pessoais.

É preciso sim, “deixar vaidades e mágoas de lado” e caminharmos juntos para derrotar o fascismo (trata-se exatamente aqueles que “só querem conturbar o ambiente”) e fazer vicejar de novo um projeto democrático e popular na capital alencarina. Vem com nóis.

*Rafael Tomyama é jornalista e militante do PT em Fortaleza

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *