PED: balanço geral

Por Patrick Araujo (*)

A realização do sétimo congresso do Partido dos Trabalhadores teve como uma de suas etapas a participação dos filiados e das filiadas no Processo de Eleições Diretas – PED, ocorrido no dia 08 de setembro. Dessa vez, o método adotado foi o de votar no PED para eleger diretamente as direções municipais e zonais do PT, bem como suas respectivas presidências.

Já a eleição das direções e presidências estaduais e da direção e da presidência nacional, ficou a cargo de congressos estaduais e do congresso nacional. Assim, também no PED, as filiadas e os filiados votaram nas chapas de delegados e delegadas para os respectivos congressos. Em outras palavras, no dia 08 de setembro votou-se para presidente municipal e zonal, para direção municipal, para chapa de delegados aos congressos estaduais e para as chapas de delegados ao congresso nacional.

Segundo dados divulgados pela Secretaria Nacional do Organização (SORG) no dia 20 de setembro, 351.034 filiados e filiadas ao PT compareceram para votar. Destes, 328.241 votos foram considerados válidos para as chapas de delegados nacionais, uma vez que 12.964 votos foram brancos e 9.829 votos foram nulos.

Não obstante o número de quase treze mil pessoas que foram até os locais de votação e optaram por não votar em nenhuma das chapas nacionais, destaca-se o fato de que o número total de pessoas que compareceram (351.034) representa apenas 17,2% do total de filiados e filiadas aptas a votar (2.040.882).

No cenário político vivido pelo país e particularmente pelo que vive o PT, esse percentual é muito ruim. Um de seus significados mais evidentes é o de que menos de ¼ dos filiados ao partido quiseram, puderam ou se mobilizaram para decidir os rumos que o PT tomará nos próximos quatro anos. Evidencia também os limites desse modelo de eleição das direções, no qual o conjunto do partido é acionado apenas para votar e não para debater a tática, a estratégia e avaliar coletivamente a política adotada pelas direções.

Além disso, outro péssimo sinal foi emitido pelo resultado nacional do PED e pela condução dada pela maioria da Comissão Organizadora Eleitoral (COE) do congresso. Da mesma forma que ocorreu com o PED anterior, uma imensa quantidade de denúncias de fraudes e irregularidades foram apresentadas. No entanto, o resultado do PED foi convertido em definitivo pela COE e ratificado pela executiva nacional do partido, de forma que os congressos estaduais ocorreram e o congresso nacional se realiza sem a apreciação dos recursos, com bancadas artificializadas e que distorcem a correlação de forças dentro do PT.

Das chapas nacionais inscritas, aquela que representa a atual maioria da direção do partido obteve sozinha maioria absoluta dos votos válidos (167.853). Isso significa dizer que a chapa “Lula Livre para mudar o Brasil”, impulsionada pela tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), indicará sozinha 409 delegados dos 800 delegados ao congresso nacional.

As denúncias de fraudes e irregularidades, se apuradas, atingiriam diretamente o resultado da chapa da CNB. Fica evidente que este fator foi decisivo para que tanto a COE quanto a executiva nacional, que são compostas em sua maioria por representantes desta tendência, decidissem por ignorar as contestações e impor uma maioria absoluta que está, em certa medida, sustentada em práticas que devem ser expurgadas do partido.

Do ponto de vista do resultado eleitoral do PED, a chapa “Em tempos de guerra, a esperança é vermelha” construída pela tendência petista Articulação de Esquerda, conseguiu manter o mesmo tamanho obtido ao menos nos últimos dois processos de disputa, recebendo cerca de 5% da votação nacional.

Este resultado, apesar de não ser suficiente para, mesmojunto a outras tendências da chamada esquerda petista, quebrar com a maioria obtida pela CNB e seus aliados, pode ser compreendida de forma positiva. Afinal, uma chapa construída por uma única tendência, que defende uma estratégia diferente daquela que hoje é hegemônica no partido, que não teve o apoio de nenhum governo de estado, de nenhum senador e de somente três deputados federais, conseguiu ter individualmente um resultado semelhante ou até mesmo superior à média das demais tendências do campo identificado como “esquerda petista”, como a Democracia Socialista, Militância Socialista, Avante, Novo Rumo, Esquerda Popular Socialista e Resistência Socialista.

Nesse sentido, um balanço do PED feito de conjunto impõe a reflexão sobre a tática adotada pelo conjunto deste campo, que no período anterior ao do início do PED foi responsável pelo movimento em prol da realização do 7º Congresso. Mesmo com a condução dada pela COE para as denúncias de fraudes e irregularidades, não seria errado afirmar que um maior número de chapas e de pré-candidaturas teria contribuído para um desempenho global melhor deste campo.

No fim das contas, conforme o resultado divulgado no dia 20 de setembro, a chapa nacional “Lula Livre! Fora Bolsonaro! Governo Democrático Popular!”, construída pela DS, MS e Avante, obteve 13,7% dos votos; a chapa “Lula Livre! Resistência Socialista”, da tendência Resistência Socialista obteve 11,1% dos votos; e a chapa “Optei pela renovação e pelo socialismo – Lula Livre!”, construída pelas tendências Novo Rumo e EPS, obteve 5,1% dos votos.

No que diz respeito aos congressos estaduais, um balanço mais geral é de que as chapas construídas pela CNB e seus aliados conseguiram vencer a maioria das disputas, como foi o caso de AL, GO, PA, PE, SP, RJ, MG, CE, BA, SE, RN, sendo que nos casos de SP, RJ, BA e MG, uma série de denúncias de fraudes, violência, distorções e mudanças de regras para beneficiar a apuração de votos foram cometidas, mas aceitas e ratificadas pela COE. Em estados como a PB e o MS não houve disputa e as novas direções estaduais foram compostas por meio de acordo entre todas as chapas.

A chapa construída pela articulação de esquerda junto a outras forças da esquerda petista foi vitoriosa no RS. No mesmo sentido as chapas apoiadas ou construídas pela AE levou à polarização em PE e permitiu que houvesse debate, como em SE e no RN. Por fim, é necessário destacar que a tática adotada pela AE, de apresentar chapa, candidatura e tese no maior número de congressos estaduais possível revelou-se acertada.

Diante das profundas distorções causadas pelo PED, a melhor maneira de uma tendência como a AE seguir disputando os rumos do PT é apresentando suas posições, discutindo com o conjunto da militância e não se dissolvendo em meio a posições que muitas vezes permitem um resultado eleitoral abaixo do necessário e com uma política não fica a altura daquilo que o PT precisa.

(*) Patrick Araujo é dirigente nacional da tendência petista Articulação de Esquerda

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