Olinda e o “novo normal” na direção do PT

Por Marcos Jakoby (*)

A situação política no país, que se estabeleceu após o golpe de 2016, exige das instâncias do Partido dos Trabalhadores e do seu funcionamento interno uma verdadeira revolução para dar conta das tarefas necessárias, visando derrotar o golpismo, o neofascismo e ultraliberalismo e abrir um ciclo de transformações estruturais em nosso país.

Não é o que vem acontecendo. Pelo contrário. A conjuntura geral aberta com a pandemia parece estar agravando algumas das nossas debilidades. Agora, no contexto eleitoral, muitas intervenções impostas pela direção nacional não condizem com as de um partido democrático, que preza por suas instâncias, pelo debate coletivo e pela construção partidária.

A intervenção realizada nessa semana em João Pessoa (PB), cujo diretório municipal fez um grande esforço para a construção de uma candidatura própria, após outros partidos de esquerda não apresentarem uma alternativa politicamente superior, foi mais uma demonstração inequívoca desse “novo normal”.

A decisão da Nacional, que resultou na intervenção, ocorreu enquanto acontecia a Convenção do Partido na capital paraibana, por meio de troca de mensagens no whatzapp, sem debate, sem reunião convocada, e de forma totalmente atropelada. Isso porque faltando uma hora, literalmente, para a convenção do PT, Ricardo Coutinho (PSB) apresentou-se como candidato.

A própria presidenta nacional do Partido havia afirmado, muitas semanas antes, que o caminho em João Pessoa deveria ser o da construção da candidatura própria, dado o quadro de indefinição. E foi o que a direção municipal e a sua militância dedicaram-se a fazer. A decisão do PT local estava dentro do contexto do que a própria direção nacional orientava, estava sintonizada com as resoluções que indicavam a construção de candidaturas próprias nas capitais e grandes cidades, e fora construída com muita unidade interna.

Todo esse processo não pode ser totalmente desprezado por meio de uma enquete em um aplicativo de mensagens. Esse método não será capaz de gerar uma construção partidária que produza bons resultados. A questão não está no instrumento de “intervenção” em si. É prerrogativa da direção nacional analisar e atuar para que as construções nos municípios estejam dentro da tática nacional, que convirjam também para os objetivos nacionais.

O problema, antes de tudo, é a forma burocratizada, antidemocrática e despolitizada em que estão sendo tomadas essas decisões. Outra demonstração de que as coisas estão tomando um caminho equivocado: o caso de Belford Roxo, onde havia uma aliança com bolsonaristas, situação que viola frontalmente nossa tática eleitoral e a nossa linha política, em que houve vários debates, reuniões do DN convocados, não sofreu intervenção. Ali sim, era o caso explícito e exemplar de onde deveria ocorrer uma intervenção e não ocorreu porque a maioria da direção nacional se subordinou aos interesses locais de um grupo.

Por outro lado, penaliza-se, por fora da legalidade partidária, o Partido numa cidade em que se seguiu a orientação da direção nacional, que estava construindo uma tática eleitoral indicada e afinada com a linha política geral do Partido.

Mas os casos absurdos não param por aí. Ainda nessa semana tivemos mais uma intervenção no padrão do “novo normal”. Em Olinda, na terça-feira (15), a executiva municipal do PT deliberou pelo nome do presidente municipal do Partido, Antônio Borges (Lulinha), para ser o vice na chapa de João Paulo (PCdoB) para a prefeitura de Olinda (PE).

No entanto, na quinta-feira (17), a direção nacional, no mesmo método da intervenção de João Pessoa, decide que outra companheira, Vivian Farias, deveria ser a vice, substituindo o companheiro indicado pela direção municipal. A única “justificativa formal” apresentada por escrito no parecer da secretária nacional de organização, votado e aprovado pela maioria da executiva nacional, era o de que a candidatura a vice deveria ser uma mulher. Não foi explicado, ao menos no parecer da Sorg, por qual motivo deveria ser especificamente a companheira escolhida pela CEN e não outra companheira.

Não havia nada na construção partidária local, de Olinda, que afrontasse as resoluções e a linha política nacional, mas na última hora, a maioria da direção nacional não viu problemas em intervir e indicar a candidata a vice de seu desejo, atropelando a direção de Olinda e criando uma crise desnecessária.

Não entramos no mérito dos nomes aqui. Mas não podemos concordar e silenciar frente ao método que vem sendo adotado em muitos casos de intervenção, que reiteramos, não envolve debate, reuniões convocadas, respeito às instâncias e não estabelece um padrão de relação com os diretórios locais que acumulam para uma construção que fortaleça o Partido, e não o fragilize. Em casos que, reiteramos também, há a mais profunda observação do que é estabelecido de conjunto pelo próprio Partido, enquanto, em paralelo, verificamos que alianças com bolsonaristas são avalizadas.

Esse método não pode ser absolutamente naturalizado em um “novo normal”. Cabe à militância e dirigentes apontar os perigos contidos nesses métodos e nessa forma de construção partidária; apontar que precisamos de uma revolução organizativa e de métodos e não uma regressão. E derrotar estes métodos, antes que eles destruam o Partido.

(*) Marcos Jakoby é professor e militante do PT

 

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