O vírus da precarização: as transformações no trabalho e na educação em tempos de pandemia

Por  Fabíola Lemos (*)

O contexto de pandemia da covid-19 está a operar um amplo laboratório sobre o futuro no campo do trabalho e da educação.

Ainda que tenha ficado explícita a absoluta importância da classe trabalhadora para o funcionamento da economia, o horizonte que se apresenta tem sido cada vez mais incerto para as garantias no campo das conquistas trabalhistas.

Constrangido em toda a sua fragilidade, o capitalismo reage à crise através de duas fórmulas clássicas: sacrificando ainda mais quem já vive na precariedade e oferecendo  o cetro do comando político aos fascistoides da vez (tão  necessários às condições autoritárias nas quais o Capital se vale).

Em um contexto de pandemia, a experiência do home office substituirá, a médio prazo, o apelo da segurança sanitária pelas justificativas de “praticidade” e aparente liberdade, empurrando os/as trabalhadores/as para a informalidade do trabalho intermitente.

Em países de capitalismo periférico, a clássica confusão entre público e privado reproduzirá as condições  ideológicas adequadas à ampliação da precarização da mão de obra que a experiência do “levar o trabalho em casa” oportuniza.

Assim, para a mulher trabalhadora, transformar o lar em escritório, ao passo que a possibilita cuidar dos/as filhos/as e das tarefas domésticas, reafirma a violenta lógica da tripla jornada e da cultura sexista que a escraviza.

Em pouco tempo, o trabalho consumirá o sagrado local de repouso, o pouco tempo para as relações familiares e a vida social da classe trabalhadora, ao tempo que reduzirá os “pesados” custos e obrigações que tanto atormentam os investidores.

Para o futuro de jovens e crianças, o “laboratório” da quarentena reserva um pós-pandemia ainda mais assustador.

Em uma realidade onde muitas vezes falta até mesmo a carteira para o/a aluno/a sentar, longe da garantia de universalização do acesso à internet e da precária capacitação de professores/as, a experiência da Educação à Distância chega ao Ensino Básico das escolas públicas, no contexto da pandemia do covid-19, disfarçada de “Ensino Remoto”.

A ausência do planejamento, próprio da EAD, tende a fazer o remendo para evitar a perda do ano letivo sair “pior do que o rasgado”.

Isso porque a presença nas plataformas virtuais ainda é confusa tanto para estudantes quanto para professores/as, comprometendo a operacionalidade da ferramenta e a qualidade do aprendizado.

Entre lives e interações via Whatsapp, o único elemento garantidor da permanência é o cumprimento da carga horária a qualquer preço.

O resultado se traduz na quase unânime insatisfação por parte dos/as estudantes e na exaustão de professores/as que, já não dispondo de um horário fixo de “entrada e saída” do trabalho, despendem um tempo muito maior para a elaboração das aulas virtuais e pronto atendimento nas redes sociais.

Em um contexto de penetração do capital financeiro na educação, abre-se uma considerável brecha para a implantação do Ensino à Distância na Educação Básica, promovendo a desvalorização do ofício de professor/a, consolidando uma pedagogia orientada segundo a lógica do mercado.

Em mundo caótico, sem perspectivas de emprego, que apresenta crescentes taxas de depressão e suicídio entre a juventude é, ainda, no “chão da escola”, que, minimamente, se exerce a experiência do social em seu potencial de diversidade e humanização.

A crescente transformação da educação em objeto de interesse do Capital tem delegado às franquias – com seus pacotes, softwares educativos, consultorias e elaboração de planos estratégicos – a centralidade das políticas educacionais.

Tal fenômeno, já em marcha no setor privado, apresenta-se à educação pública entre promessas de melhores condições de competitividade para os/as estudantes das redes municipais e estaduais em exames e vestibulares.

Por tudo isso, é preciso desconfiar das soluções mágicas que, nesse momento, surgem como “provisórias”. 

Tão intensa quanto a crise que o Capital se encontra, será o contraveneno que está por vir. Entre experimentos e improvisos, é sobre as costas da classe trabalhadora que incidirá o estalar mais forte da chibata.

(*) Fabíola Lemos é professora e secretária de comunicação do PT de Teresina

 

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