O PT e as eleições em João Pessoa

Por Matheus Firmino (*)

Passado o fatídico primeiro turno em João Pessoa, faz-se necessário uma leitura sobre  o PT, sua participação, seus processos, candidaturas,  suas lideranças e base.

Longe das pretensões desse escrito dar conta de todos esses campos, mas pontuar alguns elementos que não podem passar.

Em primeiro ponto, o imbróglio entre PT-JP, Ricardo Coutinho e a Direção Nacional do PT. Não é novidade ou segredo que as direções do PT de João Pessoa e da Paraíba buscaram construir uma chapa para a disputa na capital dialogando com o campo Democrático e Popular, incluindo obviamente as tentativas de conversar com Coutinho desde novembro  do ano passado. Todas as forças toparam conversar com o PT, menos RC, o ex-governador circulava principalmente atrás das forças de direita tentando construir uma aliança onde pudesse indicar um/uma vice.

Após ser rejeitado por tudo que é legenda de direita, a última foi o PV de Cartaxo, não conseguiu nada e viu que para sobreviver politicamente era se lançar candidato, mas só? Isso seria péssimo, então correu para a Direção Nacional do PT para cobrar uma fatura, a do apoio a Lula e Dilma, contra a prisão ilegal e o golpe de 2016. Porém, cobrar necessariamente o quê? Ter se posicionado de acordo com a legalidade democrática? Tudo bem, vamos considerar que sim, isso poder ser cobrado, mas o PT poderia cobrar a RC o fato de que todos os Deputados Federais de sua base terem votado para a deposição de Dilma?

 Vamos ao passo seguinte, o PT local passou dez meses tentando falar com RC,  que nem sequer uma ligação o mago atendia, daí, nos acréscimos do segundo tempo ele decide ser candidato e não busca o PT local, busca em especial Gleisi Hoffmann que em um movimento mais que malino toma a decisão de apoio a RC via grupo de whatsapp da DN.

O porém, é que o PT de João Pessoa já havia escolhido e legitimado a candidatura Anísio Maia do camarada Percival do PC do B. Candidatura essa que foi perseguida, inviabilizada, sabotada o tempo todo pela DN, inclusive sob intervenção autoritária e ameaças de expulsão,  mas o companheiros não envergaram, continuaram a candidatura de forma altiva e  é preciso que se reconheça a força e o caráter militante dos companheiros Anísio Maia e Giucélia Figueiredo e sem dúvida alguma dos camaradas do PC do B.

Ricardo Coutinho sobrou na curva, sobrou feio, poderia ter sido diferente se o que ele chama de projeto fosse um projeto coletivo (além do coletivo girassol), não conseguiu a metade de expressividade que pensava que teria. Mas, vamos ao PT.

Em segundo lugar é preciso olhar para dentro do PT, pois, grande parte dos problemas que culminaram no atual estado de coisas não são novos.

O PT (em todos os seus níveis) está cada dia mais burocratizado, militantes que se perduram nas suas estruturas internas por décadas, se revezando apenas de cadeira para cadeira, afastando-se das bases, às deixando aos descuidados dos mandatos parlamentares e tão sério quanto, impedindo que o PT renove seus quadros. E esse pessoal se permanecerá nesse movimento interno enquanto não se mudar o formato de suas eleições internas e adotar um método que valorize o debate político ao invés dos números dos votos de filiados que não são militantes.

É duro, mas alguns companheiros e companheiras  precisam sair de cena em algum tempo. Mas de forma alguma se está falando aqui em abandonar a estrutura partidária, mas sim de criar as condições para que o seja disputável, que se renove. E dá pra fazer isso de forma simples, por exemplo, proibindo que assessores parlamentares e militantes que participam de governos sejam das Comissões Executivas ou diretórios do partido. Assim a influência dos mandatos e governos diminuem e a militância sente que pode ser dirigente, que o partido também é seu. Além  disso o fato é que o Partido deve dirigir os mandatos e não o contrário (isso reaparecerá mais adiante).

Terceiro. Em relação as candidaturas proporcionais também precisamos ser justos com os companheiros e companheiras de colocaram seus nomes na disputa, não estamos em tempos fáceis para ser petista, de esquerda, militante e muito menos para ser candidato e candidata desse campo. Mas, vamos às observações.

Há muito, nas avaliações sobre o PT e a esquerda encontramos análises sobre  de como o PT não está conseguindo entender e se comunicar através de novas linguagens, formas de organização e representatividade que não são necessariamente  vinculadas à juventude, mas às pautas identitárias. Nesses aspecto vamos considerar a candidatura coletiva Nossa Voz. Esse movimento de candidaturas coletivas é muito positivo, mas precisa ser bem pensado. É sem dúvida uma luz nos caminho do PT para entender como as questões de identidade e representatividade podem mudar as coisas internamente, nas suas estruturas e na forma com que se disputa eleições, porém, a candidatura sofria de um déficit de um componente indispensável: onde filiados ao PT . Dos cinco nomes que fizeram parte da candidatura coletiva apenas duas pessoas eram filiadas ao PT. Daí não importa a diversidade representativa da candidatura, ou ela é do PT ou só está usando o PT como legenda para ter um número e ser votada.

Em outra ponta uma candidatura simbólica, uma candidatura petista “raiz”, a candidatura do companheiro Paulo Marcelo que ao meu ver é síntese do PT. A candidatura de um companheiro da periferia, que tem o pé na obra, da construção civil, que construiu um sindicado com a sua categoria que há muito tempo garante o suporte para muitas atividade de outros sindicatos, movimentos e partidos. Um companheiro que saiu da obra e se tornou presidente da CUT-PB, nada mais petista que isso, uma candidatura onde o caráter de classe era marca central. Porém, sofreu na construção da linguagem, da elaboração de uma comunicação um pouco mais identitária que dialogasse com outras representatividades.

Sim, essas duas candidaturas são perfeitas para avaliar a situação. Uma muito identitária, antenada com as novas tecnologias e linguagens, mas com o caráter partidário perdido no limbo e diria sem problemas, o caráter classista não era muito claro. A outra extremamente classista, mas não conseguia avançar na comunicação e usar as novas tecnologias e linguagens.

O PT e a esquerda precisam saber equilibrar isso, suas candidaturas (e sua prática) devem ter o teor classista tão evidente quanto o identitário.

Em quarto lugar. O pós primeiro turno.

Acredito que a decisão do PT em orientar sua militância a votar contra a candidatura de Nilvan, que é a candidatura síntese do bolsonarismo junto com a de Virguino é a acertada. Não dá para “ir pra Paris” em uma hora dessas, o que de fato se precisa fazer é ver como o bolsonarismo ganha menos aqui em João Pessoa. E, caso Cícero Lucena vença, o PT desde já deve se manifestar como oposição, por que na política também podemos escolher os adversários.

E em tempo, os petistas precisam respeitar as instâncias. Vejam, antes de o PT decidir sobre seu posicionamento no segundo turno o único vereador eleito pelo PT soltou uma nota sobre o posicionamento do seu mandato. Esse é também um reflexo sério dos problemas que falo no começo do texto, um vereador achar que eu seu posicionamento é mais importante que o do PT.

Para concluir, o PT de João Pessoa e da Paraíba precisam se reunir, sentar e reconstruir as relações internas, pois houveram rachas em tendências interna, um mal estar sem precedentes com os que apoiaram o intervencionismo autoritário da DN, nada “Legal”

 Traçar um programa de ação, de acompanhamento e apoio às suas bases, fazer isso junto com os mandatos e não deixar isso apenas com eles. Voltar a fazer formação política com esse povo, abrir as portas do PT para atividades de todos os campos não importando o dia ou a hora (não importa se o funcionário só está lá até a sexta como já me justificaram).E sem sombra de dúvidas começar a construir sua posição nas eleições seguintes, uma posição altiva e corajosa como foi a candidatura de Anísio Mais, coordenada por Giucélia e os companheiros e companheiras da Executiva Municipal. O PT precisa ter uma candidatura que possa ser síntese de tudo que o PT é,  e, para a Assembleia Legislativa nomes das mais diversas identidades, mas que tenham o caráter classista fortemente marcado.

 Viva o PT !

(*) Matheus Firmino é sociólogo e militante do PT na Paraíba

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