Mobilizar, organizar e lutar

Por Hilton Faria da Silva (*)

Bangu, clube de origem operária

“O que um operário dizia, outro operário escutava”*

Aos 8 anos de idade, comecei a jogar futebol. Naquele tempo cada menino chamava algum amigo para jogar no campo de futebol da cidade, Lindóia/SP. Essa era nossa mobilização.

Quando chegávamos no campo, os dois times eram escolhidos na hora. Esse era o processo de organização.

Depois jogávamos até escurecer. Às vezes chegávamos no campo às 2 horas da tarde e jogávamos enquanto fosse possível enxergar a bola. Era nossa luta.

Esses dias assisti a série “The English Game” onde se conta a origem do futebol, também chamado de esporte bretão.

Em 1879, o futebol era praticado por times amadores e as regras proibiam o jogador de receber salário. Havia os times de origem burguesa que dominavam a Associação de Futebol e proibiam os jogadores de serem profissionais. Ao mesmo tempo havia os times de trabalhadores que representavam diversas fábricas do país que criou a Revolução Industrial.

 

“O operário faz a coisa e a coisa faz o operário”*

Até 1880, os times de trabalhadores sequer chegavam às oitavas de final do campeonato inglês de futebol. Também, trabalhando 12 horas por dia ou mais, durante seis dias por semana, como ter condições físicas para enfrentar os times dos ricos?

Acontece que a forma de jogar dos times burgueses era muito parecida com a forma de jogar Rugby, onde os jogadores se movimentam em conjunto e derrubam os adversários, pois o objetivo era chegar até o gol, a qualquer custo. Nessa época não havia expulsão por jogo violento e nem substituição de jogadores.

Os trabalhadores, acostumados a trabalhar em conjunto nas fábricas e minas, desenvolveram uma nova forma de jogar futebol, em que a organização levava a uma distribuição das tarefas dentre jogadores do ataque e da defesa e também a uma maior troca de passe entre eles.

Nessa época, os trabalhadores se organizavam fortemente em seus sindicatos e realizavam muitas greves. O trabalho de mobilização era constante e o futebol também era uma forma de mobilização da classe trabalhadora.

A luta se dava dentro e fora dos campos.

As novas formas de organização da classe trabalhadora dentro das fábricas e nos campos de futebol criaram muitas coisas, dentre elas o futebol moderno, as revoluções e os direitos conquistados.

Mobilização, organização e luta são o que a classe trabalhadora aprendeu e ensinou em sua prática. Vamos praticar?

 

“O operário… que sempre dizia sim, começou a dizer não…

E o operário fez-se forte, na sua resolução.” 

(Vinícius de Moraes, trechos de Operário em Construção)

 

(*) Hilton Faria da Silva é Engenheiro Agrônomo, Palmas/TO


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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