Manifesto da tendência petista Articulação de Esquerda – Minas Gerais: dignidade, ainda que tardia

O ano era 2016 e o então Presidente Estadual do MDB-SP (à época PMDB), Deputado Federal Baleia Rossi, justificou seu voto pelo afastamento da Presidenta Dilma, democraticamente eleita da seguinte maneira:

“As justificativas para o impeachment são sérias e concretas. Primeiro, a questão legal, como a mudança no orçamento por decretos sem autorização legislativa, o que é uma afronta à Constituição Federal. E depois, no artigo 85 – inciso 6º da Constituição, as pedaladas fiscais que são verdadeiros atentados ao orçamento público e configuram-se crime de responsabilidade. Portanto, nesta parte, estou absolutamente convicto de que o impeachment é legal e respeita a nossa Constituição.

Segundo, o quadro político, onde a situação é ainda pior. Vivemos uma crise econômica sem precedentes. Hoje nós temos o aumento do desemprego, a volta da recessão, os setores produtivos passando por dificuldades extremas e um governo sem a mínima capacidade de reagir, sem credibilidade. E quem está pagando o pato? É o trabalhador que está desempregado, é a dona de casa que vai ao supermercado e vê tudo aumentar a cada dia.

Além disso, temos a crise ética e moral. Todos os dias, escândalos e mais escândalos. Por tudo isso, precisamos virar a página dessa história, precisamos de uma mudança que signifique uma melhoria de vida da população.

Voto favoravelmente ao impeachment porque não compactuo com a falta de governabilidade, com a incapacidade da presidente de conduzir o país e com a ausência absoluta de perspectivas para o futuro.”  (Fonte : Sítio do MDB. http://baleiarossi.com.br/noticias/por-que-voto-a-favor-do-impeachment-)

O ano é 2020 e Rodrigo Maia – cobiçando para algum representante da direita  a cadeira da Presidência da Câmara dos Deputados –  aglutina em torno de seu projeto os seguintes partidos : DEM, PT, PSL, PSB, PSDB, CIDADANIA, PDT, REDE, PCdoB, PV e MDB. Uma nota genérica é divulgada, afirmando que pretendem ser a “Luz” num mundo de trevas e que se tornaram “a fortaleza da democracia no Brasil; o território da liberdade; exemplo de respeito e empatia com milhões de cidadãos brasileiros”. Assim nasce “o bloco”.

 

O QUE O PT ESTÁ FAZENDO NO BLOCO DO MAIA?

Não sabemos!

Motivos não faltam para não fazer parte desta aberração. Senão, vejamos.

1)  O bloco reúne todos os partidos que promoveram o golpe contra a Presidenta eleita: não se atrevam a falar de democracia!

2) O bloco reúne partidos que aprovaram as reformas trabalhista e previdenciária, que apoiam a reforma administrativa e que silenciam sobre a taxação de grandes fortunas. Onde fica a empatia com os trabalhadores brasileiros (note-se que o texto fala em  “cidadãos brasileiros” e não trabalhadores)?

3) A atuação do bloco restringe-se à oposição a Bolsonaro, não se posicionando contra  a pauta neoliberal e de destruição do Estado. Ora, sabemos que Jair Bolsonaro nada mais é do que um produto final do golpe. Produto amargo, com gosto de ressaca, é certo, mas resultado e consequência direta do golpe. Ou seja, segue o golpe. Tanto isto é certo que Rodrigo Maia não pauta os inúmeros pedidos de impeachment sob o argumento de que não há voto. Mas não hesita em promover uma frente para eleger seu candidato à Presidência da Câmara. O que se apresenta é uma disputa da direita com a extrema-direita. O que o PT está fazendo aí?

4) Ainda sobre impeachment, é importante observar que todas as justificativas expostas por Baleia Rossi  para o impedimento da Presidenta Dilma se agravaram no governo de Jair Bolsonaro. Não seria o caso, Deputado Baleia Rossi, de dar início ao processo de impeachment contra Bolsonaro?

5) Ser oposição a Bolsonaro não basta. É preciso opor-se à pauta de destruição. E isso o bloco não faz.

6) Como o PT justificará para a sociedade que, para lutar contra os retrocessos civilizatórios propostos por Bolsonaro, elegeu um presidente de mesa legislativa que processará esses mesmos retrocessos, assim como Maia fez com a reforma da previdência, por exemplo?

7) De nada tem adiantado o PT compor com forças conservadoras para eleger presidentes de mesas legislativas, pois a participação do partido em Comissões em nada tem alterado a correlação de forças, seja na institucionalidade, seja na sociedade, e, no mérito, os projetos de retrocessos civilizatórios têm sido vitoriosos da mesma maneira.

8) O bloco reúne partidos que aprovaram a PEC da Morte que congela por 20 anos os recursos para políticas públicas sociais.

Isto posto, a Articulação de Esquerda MG lança o

MANIFESTO DIGNIDADE, AINDA QUE TARDIA

QUE O PT RETIRE-SE IMEDIATAMENTE DO BLOCO DE RODRIGO MAIA E LANCE CANDIDATURA PRÓPRIA À PRESIDÊNCIA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS!

Tal atitude também valeria no sentido demarcar e reafirmar sua concepção de esquerda nos espaços institucionais do seu campo político.


Articulação de Esquerda MG

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