Fala Jandyra – entrevista Jandyra Uehara

Página 13 entrevista Jandyra Uehara, da executiva nacional da CUT, integrante do Diretório Nacional do PT e dirigente nacional da Articulação de Esquerda.

Página 13: Governo de extrema direita destruindo a soberania, a liberdade e os direitos. E os partidos de centro-direita tentando cooptar a esquerda. Neste contexto qual a importância do Concut?

Jandyra Uehara: Desde o golpe de 2016, a classe trabalhadora e as suas organizações estão sob ataques violentos, uma verdadeira guerra para reduzir direitos ao mínimo, entregar riquezas, empresas e serviços públicos para a exploração do grande capital e destruir o movimento sindical combativo. As frações da coalizão golpista têm interesses específicos que se chocam, e adotam várias táticas para atingir os seus objetivos: do ataque frontal dos bolsonaristas às tentativas de cooptação e de “diálogo” do mal denominado “centrão”. Em comum, as frações golpistas têm o programa ultraneoliberal e a submissão aos interesses imperialistas. Quanto à amplitude dos ataques às organizações, aparecem divergências que tem relação direta com os interesses e perspectivas de cada fração: com o objetivo de fortalecer e enraizar a extrema direita, os bolsonaristas querem a destruição imediata das organizações da classe trabalhadora; a centro-direita quer se cacifar como alternativa ao bolsonarismo e, para tanto, enfraquecer as organizações a conta-gotas e cooptar parte dos sindicalistas para seu projeto de substituir Bolsonaro mantendo os pilares do mesmo programa ultraneoliberal. É neste contexto que Rodrigo Maia propõe a PEC da Reforma Sindical em contraposição à anunciada pelo governo Bolsonaro, acenando com a incorporação de pontos defendidos pelas Centrais Sindicais.

O 13º Concut deve reafirmar que para mudar a correlação de forças e derrotar os golpistas é preciso priorizar a organização, a mobilização e as lutas da classe trabalhadora – sem ilusões com atalhos, brechas que se abrem com as fissuras do lado de lá devem ser aproveitadas para combater o conjunto da coalizão. Todos os nossos esforços devem ser dedicados à unidade das classes trabalhadoras organizando e politizando as lutas de todos os setores explorados e oprimidos no combate à política de destruição de direitos e da democracia. É indissociável, indivisível e interdependente a luta pelos direitos e pela democracia, que só poderá ser retomada com justiça e liberdade para Lula e a revogação das contrarreformas dos golpistas.

Página 13: Além da discussão política geral, que outras questões estarão em debate no Concut?

Um debate fundamental, inclusive para cumprir as tarefas políticas exigidas na conjuntura, é ampliar a representação e fortalecer a organização cutista. A CUT nasceu no período “pré-neoliberal”, fez 36 anos e hoje sente os impactos que o neoliberalismo e a reestruturação produtiva operaram no Brasil a partir dos anos 1990. Com mudanças profundas no mundo do trabalho, a crescente desindustrialização, a destruição de postos de trabalho nos setores organizados, a fragmentação das categorias, a precarização, a terceirização, o aumento da informalidade e do desemprego nos últimos anos, a CUT hoje representa as categorias organizadas do setor público e privado – urbano e rural – que são minoritárias em relação ao conjunto da classe trabalhadora. É preciso uma reorganização que fortaleça e priorize os sindicatos de base, crie novas formas de organização e amplie a representação com base no fortalecimento da organização horizontal; que combata a fragmentação e unifique o movimento sindical na luta, fundindo sindicatos numa mesma base territorial; unificando trabalhadores de diferentes vínculos empregatícios; organizando quem está na informalidade, nas plataformas digitais e os desempregados – além, é claro, de fortalecer os sindicatos das categorias organizadas.

Isto exige mudanças profundas, que não são fáceis de implementar. A primeira dificuldade é que diferente do período de fundação da CUT, marcados por intensas lutas sociais e do surgimento de novas lideranças sindicais, ainda não há um movimento intenso e de massas que questione as organizações, impulsione mudanças e seja capaz de desengessar as estruturas existentes;  movimento que depende da disposição de luta e de mudanças tanto das direções dos sindicatos como de suas bases.

Outro ponto fundamental do debate é a necessidade de democratizar a CUT. Uma das medidas é reduzir a cláusula de barreira de 20% para 5% na eleição da direção executiva, pois esta regra impede a real representação de uns e amplia artificialmente a representação de outros – e exerce pressão pela formação de chapa única, sob pena de uma corrente política ou setor ficar fora da direção mesmo tendo representatividade.

Outra medida é retomar a participação das bases nos processos congressuais e decisórios, voltar a ser uma central de militantes e não de maioria de dirigentes de grandes sindicatos. Desde o 3º Congresso (1988), acabou a distinção entre diretoria e base nas eleições de delegados aos congressos da CUT, que ocorria de acordo com critérios de proporção que garantiam delegados e delegadas que não compunham as direções dos sindicatos filiados. Como resultado, ao invés de ampliar, reduziu-se enormemente a presença de trabalhadores das bases nos congressos. Queremos a base de volta nas decisões da CUT.

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