“Fahrenheit 9 de novembro” e o mito da democracia plena nos Estados Unidos

Por Varlindo Nascimento (*)

Fahrenheit 9/11 é um longa-metragem dirigido por Michael Moore, cineasta estadunidense reconhecido pela produção de documentários que colocam em xeque uma série de conceitos estabelecidos sobre o modo de vida americano e sobre o papel real do capitalismo na vida das pessoas.

Neste documentário de 2018, Moore questiona o sistema político norte americano, tido como o exemplo mais perfeito de democracia na face da terra, a partir da eleição do megaempresário Donald Trump a presidência da maior potência econômica e militar do mundo.

No desenrolar do processo eleitoral que elegeu Trump, uma das conclusões a que o documentarista chega é que a democracia estadunidense não é tão plena como se quer fazer pensar, tendo em vista os limites que o sistema bi partidarista impõe a qualquer visão de sociedade que fuja do supremacismo, do imperialismo e do conservadorismo do “Americam wei of life”.

Diante desse quadro, o próprio Partido Democrata, teoricamente mais liberal e aberto a participação das classes baixas e das minorias, passou por um processo de “republicanização”, adotando as mesmas pautas históricas do partido antagonista para ganhar eleições. Fato que fica claro pela fraude realizada nas primárias do partido para a eleição de 2016, onde o pré-candidato Bernie Sanders, que se declara socialista, foi claramente rifado das eleições em benefício da candidata do establishment, Hilary Clinton. Esse fato mostra o quanto pode e deve ser relativizada a democracia do Norte, tendo em vista a extrema limitação de caminhos para a participação eleitoral, além das barreiras impostas dentro dessas poucas opções de representatividade.

Este cenário acaba repercutindo diretamente nas políticas adotadas pelos governantes em relação a vida das pessoas comuns, principalmente as mais pobres, aquelas que são cotidianamente invisibilizadas. Os interesses corporativos dos grandes grupos industriais e financeiros são priorizados em detrimento dos da coletividade. Moore comprova essa prática quando denuncia a contaminação proposital da água da cidade de Flint, no Michigan, com índices absurdos de chumbo, colocando em risco a vida da população local, de maioria pobre e negra, diga-se de passagem.

Moore acaba fazendo um paralelo entre o discurso adotado por Trump e o praticado por Adolf Hitler durante o processo de ascensão do nazismo na Alemanha. A defesa violenta de valores e de “direitos históricos” de um determinado povo étnico, o uso da força, materializada pela política armamentista e a perseguição às religiões e aos povos minoritários são traços em comum no discurso adotado nas duas épocas. A intenção de Moore é chamar a atenção para um caminho que sociedade estadunidense pode estar trilhando num sentido tão trágico como já vivido anteriormente, e a figura de Donald Trump condensa essa perspectiva.

Assistir a essa película nos induz automaticamente a traçar uma série de paralelos com o que tem acontecido no Brasil, e isso não é um engano, nem mera coincidência.

(*) Varlindo Nascimento é  militante petista em Recife – PE

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