Eleições 2020 João Pessoa: a luta de soldados vietnamitas contra a direita, a extrema-direita e os seus próprios generais

Por David Soares de Souza (*)

Fortalecer a esquerda para enfrentar o bolsonarismo, esse foi o argumento da Direção Nacional do PT para intervir no Diretório Municipal de João Pessoa, capital da Paraíba, com o propósito de tentar fortalecer a candidatura de Ricardo Coutinho (PSB) à prefeitura da cidade. Como se a pulverização de candidaturas não tivesse ocorrido na maioria das capitais do país e como se a Direção Nacional não tivesse permitido alianças com partidos de direita, inclusive com bolsonaristas, a exemplo da disputa em Belford Roxo (RJ).

A intervenção foi apenas uma demonstração de truculência e desconhecimento da realidade local. Por um lado, não teve nenhum efeito prático, já que a candidatura de Anísio Maia (PT) foi mantida mesmo depois do processo de judicialização iniciado pela Direção Nacional. Por outro lado, não teve nenhum efeito no fortalecimento da esquerda na disputa em João Pessoa, ao contrário.

Com as poucas pesquisas divulgadas até o momento, o quadro geral nesta reta final de campanha indica a presença no segundo turno do ex-prefeito tucano (hoje no Progressistas) Cícero Lucena. O segundo lugar estaria sendo disputado em melhores condições pelo bolsonarista Nilvan Ferreira (MDB) e por Edilma Freire (PV), candidata do atual prefeito Luciano Cartaxo. Também disputam outro bolsonarista, o deputado Wallber Virgulino (Patriotas), ex-secretário de Administração Penitenciária no governo de Ricardo Coutinho e o próprio Ricardo Coutinho.

O candidato do PSB, que decidiu ser candidato no limite do prazo das convenções partidárias, mesmo com o apoio da Direção Nacional do PT e do presidente Lula, não conseguiu formar uma coligação. Ou seja, na prática sua candidatura não mostrou viabilidade para a construção de uma frente de esquerda ou mesmo centro esquerda. Enquanto o PT recebeu apoio do PCdoB, e o PDT optou pelo PV, apresentaram candidatura própria o PSOL, REDE, UP, PCO e PSTU, tal qual em diversas outras cidades brasileiras.

Ao que tudo indica, o candidato do PSB não estará no segundo turno. Além disso, nesta terça-feira (11) o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por 6×1, decidiu pela inelegibilidade de Ricardo Coutinho, pelo período de 2015 até 2022, por eventos ocorridos em 2014. Na prática, esta medida não atinge o seu registro de candidatura, ou seja, o seu nome estará nas urnas no próximo domingo. Porém, no caso hipotético caso de vitória, representa empecilho para a sua diplomação.

Sem considerar sua alta rejeição, fator no qual lidera em todas as pesquisas até então divulgadas, o ex-governador Ricardo Coutinho não optou pelos partidos de esquerda em suas alianças preferenciais nas disputas passadas e uma eventual candidatura sua com o apoio de outros partidos de esquerda – que seria possível – certamente demandaria um debate programático no qual práticas neoliberais de gestão, a exemplo da terceirização dos serviços de saúde e educação, precisariam ser revistas.

A candidatura do PT não surgiu da vontade pessoal do deputado Anísio Maia. Na verdade, foi um processo de construção coletiva envolvendo toda a base militante do partido e aprovada por unanimidade. Esta candidatura enfrentou toda a campanha sem recursos do fundo partidário, com ataques da Direção Nacional do próprio partido e até mesmo com a imagem do presidente Lula vinculada a outro candidato. Como estaríamos nesta reta final, se nosso candidato contasse com o apoio de nossas principais lideranças, jamais saberemos.

Mas, erra quem subestima a militância do PT. A partir de segunda-feira, dia 16, saberemos quais as forças políticas estão mobilizadas para o real enfrentamento ao bolsonarismo. Não se enfrenta a extrema-direita atuando deliberadamente para dispersar ou enfraquecer um partido de esquerda, sobretudo um partido com a importância do PT. Independente do resultado, a luta continua. Afinal, quando contrariada, a classe trabalhadora não vai à Paris.

(*) David Soares de Souza  é sociólogo e militante do PT


 

 (**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

 

 

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