Eleição suplementar ao senado no Mato Grosso e a luta contra o coronelismo e o golpismo

Por Thiago Oliveira Rodrigues (*) e Jhonatans Adriano Oliveira (**)

No sentido de estabelecer o diálogo com as deliberações da Executiva e do Diretório Estadual do PT, e com a carta da companheira Edna Sampaio, intitulada – “A eleição suplementar para o Senado da República e a política do Grupo que controla o PT/MT”, segue uma análise acerca do que denomino de “ELEIÇÃO SUPLEMENTAR AO SENADO DA REPÚBLICA, a primeira batalha de uma guerra para derrotar o coronelismo e o golpismo em Mato Grosso”.

Para iniciar esse diálogo a melodia de Caetano Veloso que nos diz muito dos desafios e responsabilidade histórica que temos junto a classe trabalhadora: “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”. Remeto também ao chamado do combatente Carlos Marighela que nos convoca – “é preciso não ter medo, é preciso ter coragem de dizer”. É com essa melodia poética e do chamado de Marighela que chamo e também me coloco à responsabilidade para uma direção de um partido emergente ao cenário democratizante pós ditadura, construído no chão de fábrica, nas igrejas, universidades, bairros e nas lutas, um partido certamente de trabalhadores (as)!

Desde o golpe de 2016, a conjuntura tem sido marcada por um conjunto de medidas de retirada de direitos sociais, sobretudo as conquistas marcadas pelos governos Lula e Dilma, a articulação daqueles que até então eram tidos como “aliados” do governo de conciliação com o centro e até setores mais social-liberal da política brasileira, orquestrou e retirou a presidenta Dilma que foi legitimamente eleita pelo voto popular, esses setores não satisfeitos com isso deu sequência e assumiu de assalto a presidência da república, a máxima golpista que espraiou nas ruas “primeiro a gente tira o PT e depois acaba com a corrupção” certamente não passou de uma falácia golpista.

Além disso, o recrudescimento da democracia brasileira expressos no processo eleitoral baseado em fraudes, dentre elas a farsa do judiciário que prendeu o presidente Lula sem provas, além das milhares de pessoas impossibilitadas de votar pela manobra do recadastramento eleitoral, vimos o impedimento intencional do presidente Lula ser candidato a presidência da república para recolocar o país na retomada do desenvolvimento econômico e social, processo esse que resultou na ascensão das forças milicianas e bolsonaristas ao Palácio do Planalto para dar continuidade na agenda política, para uma fase mais enrijecida do golpe, dentre as quais a destruição do SUS, da Previdência pública, do desmonte da educação e das políticas sociais conquistadas historicamente pelos trabalhadores.

Em Mato Grosso, a agenda governamental segue à risca a tendência nacional, o governo Mauro Mendes foi eleito com o discurso de apoio à Bolsonaro, além do compromisso com os setores do agronegócio, empresarial e dos setores evangélicos de aprofundar a agenda que o governo Taques não conseguiu, dentre elas a reforma da previdência estadual, a reforma do serviço público, vimos essa segunda questão o endurecimento para cima dos trabalhadores na greve pelo RGA. Além do ataque a educação, como os realizados à UNEMAT e a escola Nilo Póvoas.

É fundamental que o PT continue atuando como oposição, combatendo de forma sistemática e compromissada com a luta dos trabalhadores, contra qualquer ataque aos direitos. Para isso é preciso que continue denunciando o desgoverno de Mauro Mendes, que vem atuando de forma a destruir o serviço público e os direitos sociais.

Todavia, não podemos esquecer das eleições e de como atuamos no campo eleitoral e a (não) tática adotada pela direção do PT, estratégia essa que tem rebatimentos ou continuidade das sucessivas repetições de erros da via conciliatória, analisemos tal questão a partir dos vetores das próprias resoluções do partido e no estabelecimento do diálogo com o texto da companheira Edna Sampaio:

1. A não tática eleitoral tirada no encontro de tática de 28 de julho de 2018 teve direcionamento em consonância com as deliberações do 6º congresso do PT que seria a não coligação com partidos que apoiaram o golpe, a manobra utilizada pelo campo majoritário do PT (Leia-se CNB) foi de jogar a operacionalização do diálogo com outros partidos, operando para uma tática eleitoral que contrariaria as deliberações do 6º congresso e da resolução do próprio encontro de tática, observa-se que de modo cirúrgico o campo majoritário leva o partido para uma derrocada eleitoral, isso porque a opção adotada pela aliança sem que o partido sequer tivesse em composições majoritárias do processo eleitoral fez com que Haddad não tivesse palanque eleitoral no estado de Mato Grosso, o que resultou numa vitória esmagadora de Bolsonaro com cerca de 65% dos votos e com o candidato no qual o campo majoritário do PT optou pela aliança declarou que se recusaria a fazer campanha para o PT em Mato Grosso.

Além disso a tática fraticida do boicote eleitoral das demais candidaturas do próprio partido e da má distribuição dos recursos, a máxima do voto útil em uma candidatura, obviamente da CNB, resultaria numa derrota política para o próprio PT, isso porque não fosse o bom desempenho de Edna Sampaio a última vaga para a câmara federal não teria ficado conosco, também no cenário do legislativo de Mato Grosso o desempenho poderia ter nos colocado em outro patamar podendo o PT estar hoje com 3 deputados estaduais na AL-MT, nesse sentido o voto útil certamente teve utilidade para a direita política no cenário político de criminalização do PT.

2. Em se tratando das eleições suplementares para o Senado da República como o próprio título já adianta o centro do debate em questão, desse modo é necessário desmistificar um discurso que não é a defesa das tendências à esquerda do campo majoritário do PT, em primeiro lugar não se trata aqui colocar como prioridade as eleições suplementares em detrimento das eleições municipais, um processo não está descolado do outro, as eleições suplementares é a primeira disputa eleitoral que possibilita travar a disputa necessária e polarizar com os setores mais conservadores do estado de Mato Grosso, é também o momento de organizar as forças sociais que estão dispostas a fazer o combate por meio de uma frente de esquerda e dos setores progressistas que estão dispostos a denunciar os ataques tanto de Mauro Mendes como Bolsonaro aos direitos dos trabalhadores.

3. A falência programática do campo majoritário do PT coloca em xeque essa polarização ao sinalizar composição por exemplo com Max Russi ou com outros setores golpistas, além disso rebaixa o programa do PT em detrimento de setores que não tem a mesma capacidade de aglutinar os votos da esquerda, dos servidores públicos e até mesmo de parcela da classe trabalhadora que está em disputa no atual cenário político de retirada de direitos.

4. No que se refere às candidaturas colocadas, compreende-se que todas são legítimas, desde que se cumpram as resoluções políticas tanto da executiva quanto do diretório estadual do PT que apontam que o partido terá candidatura própria. É necessário compreender que as eleições suplementares não pode ser uma aventura ou até mesmo uma práxis utilitarista de fazer do partido uma “moeda de troca” com os setores golpistas ou até mesmo da direita que não tem compromisso algum com o projeto de inclusão e de defesa dos direitos dos trabalhadores.

5. O comportamento do campo majoritário do PT de se comportar como se fosse maior do que o próprio conjunto do PT, a exemplo do fato de nenhum nome da tendência ter passado pelas instâncias do partido só demonstram como a CNB se comporta como “partido dentro do partido”, a democracia interna precisa ser fortalecida com base no respeito ao conjunto do partido.

6. Dialogando com o texto de Edna Sampaio, podemos certamente avaliar que o companheiro Lúdio é hoje a figura política que consegue ter maior capilaridade e condições de fazer essa polarização e disputar com iguais condições de eleições a essa disputa. Por outro lado o companheiro precisa estar convencido disso e sobretudo, precisa convencer o setor que dirige o PT de tal importância; o PT precisa assumir o seu papel em relação as questões pendentes das disputas anteriores ao governo do estado e a prefeitura no qual há pendências sobretudo financeira do companheiro Lúdio.

7. No dia 08 de março realizou-se a reunião do diretório estadual no qual encaminhou-se por unanimidade a candidatura de Valdir Barranco ao Senado da república não tem as mesmas condições que Lúdio teria, entretanto, é necessário uma candidatura de envergadura com disposição real de disputa para derrotar o bolsonarismo e o agronegócio em Mato Grosso, não estou aqui dizendo contra a pessoa de Valdir Barranco e sim a política incorporada pelo seu grupo político e a forma obscura de encaminhar o processo interno do partido. Além disso, construir um processo de disputa com reais condições de eleições significa também construir um cenário favorável para a disputa eleitoral para prefeitura e projetar um cenário melhor para 2022.

8. É estarrecedor a posição de setores do PT que se coloca no campo à esquerda no partido agir como subserviente, ou como verdadeiros satélites do campo majoritário, que em grande medida legitima as posições do campo majoritário na tentativa de dar uma legitimidade de esquerda, se é que isso seja possível, o lugar da esquerda petista é sair da lógica da política de conciliação de classes e colocar o partido à esquerda nos processos políticos de enfrentamento ao golpe.

Por fim, é preciso ter muita responsabilidade, reproduzindo o discurso de Marighela –“é preciso não ter medo, é preciso ter coragem de dizer”; é preciso um partido para tempos de guerra, que tenha disposição de fazer o bom combate, não podemos repetir os erros do passado em que as figuras abafam outras lideranças em detrimento de projetos individuais ou de tendências ao invés de um projeto maior de defesa de fato dos direitos dos trabalhadores!

(*) Thiago Oliveira Rodrigues – Militante da Articulação de Esquerda 

(**) Jhonatans Adriano Oliveira – Militante da Juventude da Articulação de Esquerda

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