Como será o amanhã?

Por Clarice Avila (*) e Adriano Bueno (**)

A pandemia piorou muito as condições de vida da população negra. Voltamos a conviver com o aumento da inflação, do desemprego, da fome e com a desvalorização do salário.

Neste cenário, a violência racial não deu trégua nem mesmo nos momentos em que o isolamento social diminuiu a circulação de pessoas. Escrevemos este texto ainda chocados com o assassinato brutal de Moïse Kabagambe, um trabalhador negro.

Mas, se é verdade que a vida está mais difícil, também é verdade que houve luta. Nos EUA, o Black Lives Matter ocupou as ruas e a luta deste movimento contribuiu para derrubar Trump em 2020.

No Brasil, as primeiras manifestações de rua foram protagonizadas por muitos jovens, trabalhadores de aplicativo, torcidas organizadas, hip hop e movimento negro. Neste ano de eleições, cabe ao movimento negro brasileiro fazer a sua parte e juntos, derrubarmos Bolsonaro e sua tropa.

Vale ressaltar que o que aconteceu nos EUA nos serve de alerta. Lá, a esquerda não conseguiu eleger Bernie Sanders, o candidato que tinha as melhores propostas para os afro-americanos. Sanders foi derrotado por Biden inclusive entre negros e negras democratas, como ocorreu nas primárias da Carolina do Norte. Ao final, o fascismo foi derrotado, mas o neoliberalismo vive nos EUA.

Aqui no Brasil, derrotar o fascismo e o neoliberalismo – que é uma política econômica racista – é a única forma de podermos respirar. O neoliberalismo nos condena ao encarceramento em massa, à miséria, ao desemprego e à violência racial.

Mas a tarefa não é simples, porque a direita opera para a continuidade do neoliberalismo em frentes diferentes. Com o próprio Bolsonaro, que não deve ser subestimado; com uma eventual 3ª via, que representa o bolsonarismo sem Bolsonaro; e, até mesmo incidindo sobre a candidatura de Lula, com no mínimo 3 variáveis: colocando Alckmin como vice; empurrando a federação com partidos de direita; e, incentivando alianças com partidos de direita. Todas as variáveis visam um objetivo: rebaixar o nosso programa popular.

A pergunta para reflexão é: como ficam as políticas de combate ao racismo no programa do PT se tivermos um amplo arco de alianças, que inclui entre “aliados” figuras que ajudaram a sustentar o golpe que tirou nossa presidenta Dilma, apoiaram a prisão de Lula e contribuíram para eleger o governo racista de Bolsonaro?

Em 2022, combater o racismo pressupõe derrotar o fascismo e o neoliberalismo. E isto só será possível com a eleição de Lula junto a um programa que reconstrua tudo o que foi destruído pelos golpistas.

Este programa precisa partir de uma organização da base e a Secretaria de Combate ao racismo, em nível nacional e nos estados, não pode apenas dizer “amém” para tudo. Antes, nossos

setoriais possuem um papel importante na construção de um programa que inclua de fato o povo preto deste país.

O Setorial de Combate ao Racismo do PT

A Secretaria de Combate ao Racismo do PT é o instrumento de organização da luta antirracista petista. Nos dias 4 (sábado) e 5 (domingo) de dezembro de 2021 aconteceu o encontro nacional que elegeu nossa direção setorial.

Nós, negras e negros que militamos na Articulação de Esquerda, participamos do Encontro Nacional de Combate ao Racismo do PT com a chapa O Combate ao Racismo em Tempos de Guerra e a tese Nas Ruas e Nas Urnas, Com Raça e Com Classe. Apoiamos a companheira Givalda Bento, do Quilombo Socialista, para a coordenação nacional.

Dos 1272 delegadas e delegados aptos a votar, 1007 votaram virtualmente em chapa e candidatura. Destes 1007 votantes, pouco mais de 200 participaram na sala virtual do encontro.

Na prática, o encontro só não resumiu-se a defesa e votação de teses, chapas e candidaturas porque forçamos algum debate. Mesmo assim, não tivemos uma dinâmica congressual com destaques, debate e emendas à tese vencedora. Mais uma vez, as necessidades históricas e os desafios que enfrentaremos foram deixados para segundo plano, sendo sobrepostos pela política do poder pelo poder e a manutenção do mais do mesmo.

Com estes resultados, voltamos a integrar o coletivo nacional da Secretaria de Combate ao Racismo do PT com a companheira Clarice Avila, conforme objetivo foi traçado no Setorial de Combate ao Racismo da tendência petista Articulação de Esquerda.

Cloves de Castro, presente!

Moïse Kabagambe, presente!

(*) Clarice Avila integra o coletivo nacional da Secretaria de Combate ao Racismo do PT.

(**) Adriano Bueno integra a direção estadual da Articulação de Esquerda em São Paulo.

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