Capangas cortam corrente em Terras Waimiri-Atroari

Por Egydio Schwade

Sempre primando pela covardia, agora apelando à “lei” – sem se referir qual lei – o dep. Jeferson Alves, de Roraima, veio a se exibir como “valentão”, cortando a corrente que os índios Waimiri-Atroari colocaram para proteger noturnamente a vida e as riquezas naturais do seu território. Estes sim, como manda a Carta Magna no Capitulo VI, Art. 225, Caput: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”

Deputado covarde sim, assim como os agentes públicos que invadiram o território desses índios indefesos na década de 1970 e assassinaram mais de 2.000 deles, sem uma explicação ou justificativa dada ao povo que o preservou durante milênios.

Covardia, sim! Pois quando se viu uma posição deste ‘valentão’ em defesa deste povo, quando os interesses energéticos sumiram com 7 aldeias na região hoje ocupada pelo lago de Balbina e quando os interesses pelo minério em suas terras, sumiram com 9 aldeias onde hoje se encontra instalada a Mineração Taboca, no Pitinga?

Covardia, sim! Porque os Waimiri-Atroari, impedindo parcialmente o trânsito pelo seu território durante as noites dão apenas continuidade ao que o Exército Brasileiro começou e não de forma parcial, mas total. E foi para impedir o acesso de jornalistas e pesquisadores que poderiam revelar os crimes que a Ditadura Militar cometeu contra o povo Kiña ou Waimiri-atroari, até hoje nunca esclarecidos para estes. Hoje os Waimiri-Atroari, impedem a passagem noturna de veículos particulares e de transporte de cargas não perecíveis. Não impedem o povo humilde que trafega de ônibus e nem os veículos com doentes e caminhões com alimentos perecíveis. Sua preocupação é pelo meio ambiente que é hoje preocupação mundial, menos para o governo Bolsonaro e seus asseclas.

Covardia, sim! Por que os índios não foram consultados? Além disso, hoje existe uma comissão de deputados federais que acompanha os interesses dos povos indígenas, presidida pela deputada federal roraimense, Joenia Wapixana. Por que não consultar antes a esses e não seguir apenas o impulso de lacração e de atender aos interesses que há muito desejam a morte dos povos indígenas?

As belezas naturais da Região, que hoje geram emprego e renda ao município de Presidente Figueiredo, estão em terras a milênios carinhosamente cuidadas, preservadas e comunitariamente utilizadas pelo povo Kiña.

A Ditadura Militar invadiu esse território sem um contato  anterior com seus donos, instalou a ineficiente hidrelétrica de Balbina, projetos agropecuários fracassados, propiciou o roubo do minério e distribuiu a maior parte das terras para “grileiros paulistas” que apenas as utilizam para especulação financeira, sem nada de investimento.

Invadir, destruir e saquear, contra as leis nacionais e internacionais, as riquezas e belezas naturais preservadas por esse povo, cortar uma frágil corrente, são apenas testemunhos de uma covardia intolerável que precisa ter uma resposta do povo brasileiro e, em especial, do povo jovem, humilde e forte de Roraima e do Amazonas, contra seus velhos políticos covardes.

Casa da Cultura do Urubui, 29 de fevereiro de 2020.

Egydio Schwade

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *