As margens que comprimem o PT

Por Fausto Antonio (*)

Epigrafia de preto velho

“Não existe possibilidade de vitória de Lula sem a derrota do golpe e dos golpistas. Somente a vitória contra o golpe viabilizará a eleição, a posse e a continuidade de um governo contrário aos  privilégios da burguesia  branca brasileira e do imperialismo, sobretudo.”

A  burguesia branca brasileira produz e utiliza, a seu serviço e dos seus privilégios  de classe e raça, o caos. Ela não permite, seria uma temeridade e colocaria em risco o controle e poder, o caos nas manifestações carnavalescas e de rua. Prevalece, nas ruas e cortejos carnavalescos brasileiros,  a centralização dos desfiles,  do controle do tempo, dos corpos  e da centralidade da ação violenta e racista da polícia.  Caos no carnaval seria deixar livres, com força para circular e se organizar, a negrada e os pobres, que devem permanecer, para o bem estar e  privilégios da branquitude, segregados.

Numa linha inversa, no entanto, a burguesia  brasileira administra o caos, gerado pelo golpe branco de 2016 e pelo governo Bolsonaro, como meio para ganhar a  eleição presidencial de 2022.

O  caos é, dentro desses limites, um artefato político. Sendo assim, não existe  um caos no país; há, a rigor, uma organização em cujo projeto está  confiada a política perversa da burguesia  branca brasileira  e do imperialismo.  Não é por outra razão que os preços exorbitantes dos alimentos básicos  e  a alta desenfreada dos  combustíveis  são apresentados pela imprensa brasileira, de modo  esquizofrênico,  como uma produção sem sujeito e/ou de sujeito indeterminado. Em outros termos, a inflação não é derivada da política econômica do ministro Guedes, de Bolsonaro e das políticas comandadas e impostas  pelo  neoliberalismo.  A  imprensa brasileira, corpo e  voz  orgânica do golpe de 2016 e da branquitude, brindou  Bolsonaro, no transcurso da sua desastrosa gestão, no que toca aos interesses dos trabalhadores (as)  e do  campo popular.   Os dados relativos ao pensamento único em defesa de Bolsonaro  são repetidos exaustivamente e sem nenhum pudor ou elo real com o contexto concreto brasileiro. Dentro dessa perspectiva, os  apresentadores (as) da Rede Globo repetem textos que dizem que a alta do pão, no Brasil, é responsabilidade da guerra da Rússia contra a Ucrânia.  Na contramão dessa invisibilidade urdida pela organização do caos, como artefato político e discursivo, sabemos que a alta do pão faz parte da alta dos preços de alimentos  no seu conjunto e é de responsabilidade do governo Bolsonaro.

A alta dos preços dos alimentos e a fome estão nas manchetes e nos textos. Guedes, quadro do PSDB e da política econômica neoliberal, e o governo Bolsonaro são invisibilizados, protegidos.

A  campanha favorável à politica econômica do governo Bolsonaro é  a senha do  conjunto indissociável e contraditório materializado pela Rede Globo  e o governo derivado do golpe de 2016.  Destacamos a Rede Globo para especialmente  enfatizar que as demais empresas de comunicação, atuantes no território brasileiros,  são satélites da Rede Globo e suas agências, salvo interesses táticos empresariais, submissas ao projeto golpista e a tudo que for determinado pelo imperialismo e burguesia brasileira.

O processo eleitoral está em andamento.  É  um fato que a campanha em defesa de Bolsonaro, que  é uma máscara ou simples veículo do golpe, dos golpistas e da política econômica neoliberal e contrária  à soberania nacional.

O caos existente na sociedade brasileira é controlado pela violência policial contra os negros, os pobres e, como um amortecedor diário, pelo sistema de comunicação, que será carro chefe na tentativa de  recondução de Bolsonaro à presidência em 2022.

A   campanha  eleitoral curta, a desorganização aparente, é um dado articulado pela burguesia brasileira  e pelo imperialismo. Sem as ruas e o restrito tempo de televisão, o processo golpista, que produziu e protege Bolsonaro,  levará  vantagem. A Rede Globo, agência do imperialismo e voz  do setor mais reacionário  da burguesia branca brasileira,  será a  sede e base da  campanha, que terá textos, imagens, pensamentos e eixo único.  O foco único será mobilizado taticamente contra Lula, o PT, e estrategicamente contra os interesses  do campo negro-indígena, popular e/ou dos trabalhadores (as).

Decorre dessa realidade  a  urgência de mobilizações, comitês  de lutas,  agenda, programa e projeto liderado pelos trabalhadores (as) e pelo campo popular para derrotar o golpe, eleger Lula e consolidar, a partir da convulsão e revolução das ruas, uma outra correlação de forças à esquerda do PT e de Lula.

Não existe possibilidade de vitória de Lula sem a derrota do golpe e dos golpistas. Somente a vitória contra o golpe viabilizará a eleição, a posse e a continuidade de um governo  contrário aos privilégios da burguesia branca brasileira e do imperialismo, sobretudo. Numa síntese engendrada pela correlação de forças advinda do protagonismo do chão da sociedade brasileira, a vitória, assim configurada pelos trabalhadores (as) e pelo campo popular, anulará as composições federativas artificiais do PT e do PSOL, o vice da terceira via da chapa de Lula à presidência e dará a base real para o governo realizar as  políticas sistematizadas pelas reivindicações, processos e projetos pautados pelos trabalhadores (as) e pelo campo popular.

Não há outro caminho para os movimentos sociais negros, trabalhadores (as) e pobres. Por outro lado, sem as bases populares, a  disputa presidencial ficará a cargo da Rede Globo. Como  agência maior  e efetiva do imperialismo, no primeiro momento, a Globo pautará as suas intervenções igualando Lula a Bolsonaro.  No segundo estágio, Bolsonaro, com sua base histórica constituída por militares, forças armadas, amplos setores do sistema jurídico e parte substantiva da burguesia entreguista e do agronegócio, receberá o apoio tático-eleitoral do PSDB, DEM, PMDB, PDT, imperialismo e todas as suas agências. Ilusões à parte, o núcleo do golpe branco de 2016 fará de tudo para reconduzir Bolsonaro ao planalto central; e o governo será comandado  novamente pelo centrão, isto é, PSDB  e DEM.

As  margens que comprimem o PT  e Lula estão expostas.  Na margem interna  ou por dentro, temos o vice, que é um impedimento efetivo para as mobilizações e para uma campanha convulsionada pelos trabalhadores (as).  Na outra margem, a externa,  temos a Federação artificial, artefato  da terceira via,  que traz para o seu interior o PV, organização que sempre  orbitou e orbita em torno do PSDB.  Na mesma lógica de terceira via e de rebaixamento do projeto eleitoral tático e estratégico contra o golpe de 2016, posiciona-se  parte da esquerda que, a despeito das críticas dirigidas ao PT  e ao seu vice, realiza adesão ao projeto antipetista e de direita  no campo federativo. É o caso do PSOL, que fez composição com a Rede Sustentabilidade, partido golpista e coalhado de vozes antiPT  e antiLula. Qual a mensagem sublinhar dada pelo PSOL?   Não dará, tal como ocorreu em  2016,  apoio estratégico para a luta contra o  golpe e, na sua execução à esquerda, não haverá e/ou haverá apenas um  apoio tático e frouxo  ao PT  e  a Lula.

(*) Fausto Antonio  é  escritor, poeta, dramaturgo e professor  da Unilab – Bahia


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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