Após a parada forçada do neoliberalismo, é “Fora Bolsonaro, Mourão, Moro, Guedes”

Mas, por outro lado, um homem benevolente ajuda os outros a firmarem sua atitude do mesmo modo que ele próprio deseja firmar a sua e conduz os outros a isso do mesmo modo que ele próprio deseja chegar lá. A capacidade de tomar o que está ao alcance da mão como parâmetro pode ser considerado o método da benevolência”. Confúcio

Por Sérgio Henrique (*)

Na presente crise de pandemia provocada tanto pelo COVID-19 como pela hegemonia política do sistema capitalista, duas reações antagônicas devem ser observadas entre os principais sujeitos que atuam na produção das mercadorias necessárias para satisfazer as necessidades materiais, que estão ameaçadas.

Referi-me a mercadorias propositalmente porque a preocupação de uma das partes antagônicas é a de como circularão os bens materiais e a força de trabalho (ambas as mercadorias) que serão vendidas para os consumidores em troca de dinheiro. Em outras palavras, o questionamento deles é se prosseguirmos com as atuais medidas de prevenção, de que forma retirarão a energia necessária da sociedade para manutenção de seus privilégios? As declarações de Roberto Justus nas redes sociais e na TV Band na manhã dessa segunda-feira (23/03/2020) expressam – como ele mesmo afirmou –  o pensamento dos empresários capitalistas no Brasil.

O neoliberalismo estava em plena marcha contra a classe trabalhadora e os mais pobres desse país quando começou o atual problema – que é resultado das limitações do sistema capitalista – e quando a crise do vírus biológico passar só restará o “vírus mental”: os capitalistas tentarão recuperar suas riquezas à custa do trabalho e da miséria dos brasileiros. Dessa doença os mais ricos sofrem desde a vinda dos portugueses para essas terras.

A pergunta de hoje é: por que os empresários (que fazem parte da sociedade capitalista) não se unem e unem as riquezas que foram produzidas pelos trabalhadores das empresas para a resolução dos atuas problemas e proteção da sociedade?

A resposta dos capitalistas brasileiros – por meio de Roberto Justus – é com outra pergunta: “você está preocupado com os pobres?”. Ou seja, para privilegiados do mundo a atitude de banalização do problema expressa por frases como “12 mil pessoas morreram do coronavírus até agora. Isso é absolutamente nada”.

Para a classe trabalhadora os interesses são de proteção das famílias e dos segmentos populacionais mais vulneráveis num contexto de desigualdades sociais agudas. O que importa para a população não detentora dos meios de produção é a saúde coletiva e o único caminho para não sofrermos amanhã mais ainda com os ataques da burguesia por meio do governo federal é uma revolta popular que revolucione o poder para as mãos da classe que pode organizar a recuperação econômica sem prejudicar os que mais precisam de cuidado.

Foi acertada a proposta do Partido dos Trabalhadores através do projeto de Seguro Básico emergencial para garantir um salário mínimo a metade da população brasileira, ou seja, o PT propõe que o governo federal estabeleça R$ 1.045 de renda a 100 milhões de brasileiros que precisam permanecer dentro de casa e parar suas atividades.

Mas com o caos que pode ser provocado pela ingovernabilidade do governo Bolsonaro, é imprescindível que a direção política da classe trabalhadora construa um programa capaz de responder às necessidades e aos anseios populares e que por isso seja um motivo de mobilização social e política em torno dele.

Esse programa deve incluir o que a Articulação de Esquerda vem propondo no conjunto de suas resoluções:

  1. a) Estatização do sistema financeiro que possibilite a redução nas taxas de juros, para estimular investimentos produtivos;
  2. b) Taxas de câmbio administradas, que elevem a competitividade dos manufaturados brasileiros no mercado internacional e não prejudiquem a importação de bens de capital para a indústria;
  3. c) Reforma tributária que taxe fortemente o capital entesourado e as heranças, estimule o capital produtivo e desonere os rendimentos do trabalho;
  4. d) Radicalização das leis contra a formação de cartéis, oligopólios e monopólios e contra as ações corruptoras dessas corporações;
  5. e) Criação de empresas estatais que induzam os setores privados, principalmente médios e pequenos, a produzir ciência, tecnologia e inovação, adensar as cadeias produtivas nacionais e realizar um crescimento ampliado da produção industrial e agrícola;
  6. f) Ampliar a produção de alimentos, através de mudanças na política agrícola e na estrutura agrária para garantir o abastecimento de toda a população;
  7. g) Transformar radicalmente as condições de vida da maior parte da sociedade, especialmente fortalecendo econômica, política e culturalmente a classe trabalhadora assalariada.

A Articulação de Esquerda acertou na análise da conjuntura quando afirma que “do ponto de vista estratégico, um país realmente desenvolvido, soberano, democrático e igualitário supõe novas instituições e novas maiorias políticas, outro judiciário, outro congresso, outros governadores e prefeitos, outro governo federal, outro Estado”.

Uma forma objetiva de ser solidário com o outro, com a outra, é a tomada do poder político para o exercício do poder de reorganização da sociedade, que torne possível o cuidado com os segmentos populacionais mais frágeis. Essa deve ser a tarefa do Partido dos Trabalhadores e demais partidos de esquerda, por meio de uma frente socialista e com disciplina de direção. A mudança da estratégia do PT depende majoritariamente de suas ações, mas a unidade da esquerda é um fator importante para a aceleração dessa necessária mudança.

E nesses dias a pauta que deve unificar é “Fora Bolsonaro, Mourão, Moro, Guedes” porque está nítido de que a burguesia e seus representantes nas instituições da “República” não são capazes de solucionar os problemas da sociedade que eles próprios dirigem.

(*) Sérgio Henrique é militante do Partido dos Trabalhadores em Teresina

 

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