A ilusão voluntarista – uma resposta ao PCO

 

Página 13 divulga artigo de Marcos Jacoby, militante do PT, em resposta à crítica publicada no site do Partido da Causa Operária a respeito da polêmica em torno da palavra de ordem “Fora Bolsonaro”. Destaca-se que os artigos aqui publicados refletem opiniões individuais dos seus autores e não uma opinião do Jornal Página 13 ou da tendência petista Articulação de Esquerda.

 

A ilusão voluntarista – uma resposta ao PCO

No dia 02 de agosto, publiquei um texto  no portal Página 13 intitulado “Sobre a polêmica do impeachment e o Fora Bolsonaro ( https://pagina13.org.br/sobre-a-polemica-do-impeachment-e-do-fora-bolsonaro/). No dia 05 de agosto, o PCO publicou um texto criticando o que eu havia escrito, com o título “Uma esquerda entrincheirada no “fica Bolsonaro” (https://www.causaoperaria.org.br/uma-esquerda-entrincheirada-no-fica-bolsonaro/). Destaco que, embora seja militante da Articulação de Esquerda /PT, não sou membro da direção e o texto, portanto, pode não refletir necessariamente as opiniões oficiais da tendência.

Chamo inicialmente  à atenção para o seguinte: não acho que a polêmica em questão possa ser simplificada com armadilhas como a posta no título da matéria do PCO, ou seja, quem argumenta que para atingirmos o objetivo do Fora Bolsonaro há uma situação política e uma correlação de forças a ser construída é tachado de “fica Bolsonaro”. Isso não ajuda ao conjunto da esquerda avançar no debate e na luta.

Dito isso, recorro a um trecho de outro texto do PCO ( https://www.causaoperaria.org.br/nada-de-atos-a-conta-gotas-generalizar-as-mobilizacoes/ ) em que fica bem sintetizada a sua compreensão do momento atual: “A situação política está preparada para derrubar o governo. O povo já deixou claro que é isso que quer, falta as direções políticas indicarem o caminho”. Ou seja, basta as direções lançarem a palavra de ordem que milhões de trabalhadores e jovens encherão as ruas para derrubar não só Bolsonaro, mas como seu governo. O problema, então, seriam as “direções pequeno-burguesas” que não se lançam nessa luta.

Respeito a opinião dos camaradas, mas discordo. Não acho que nos encontramos numa situação dessas. Boa parte da esquerda está trabalhando para que isso ocorra, mas isso não depende exclusivamente da nossa vontade. Para o PCO abundam evidências de que a maioria do povo está disposto a ir para às ruas, realizar greves, atos, marchas, paralisações para derrubar o governo bolsonarista. Estamos falando de milhões, pois para avançarmos nesta luta precisamos de uma luta realmente de massas.

Se tomarmos as greves como um indicador da mobilização da classe trabalhadora, perceberemos que entre 2016 e 2018 houve uma redução de 30% no número total de greves e 50% no número de horas totais paralisadas (Fonte: Dieese). São números expressivos e que indicam, num período muito recente, uma retração significativa no uso de uma ferramenta importante de luta dos trabalhadores que é a greve. É uma evidência que não se pode desprezar na avaliação da disposição e das possibilidades de engajamento da classe. Há que se salientar que em 2017 houve uma greve geral importante para barrar a reforma da previdência proposta por Temer, bem como uma mais recente, no dia14 de junho, mas que comparada com a de 2017 não teve a mesma força, o que também levanta sinais das dificuldades a serem transpostas.

Mesmo o nível de mobilizações ocorridas em maio e junho deste ano, que foram significativas, está difícil de ser mantido. E estas ocorreram, sobretudo, a partir da pauta dos ataques à educação e à previdência. De um modo geral, até aqui, as mobilizações do campo popular que ambicionam ser amplas, não estão indo muito além do âmbito das vanguardas e da militância, com exceções entre os trabalhadores da educação e a juventude estudantil. Palavras de ordem e agitação em torno do Fora Bolsonaro podem e devem ser feitas, mas não será suficiente para despertar para a mobilização setores que hoje estão passivos. Qual a consequência prática disso? Significa que precisamos acumularmos mais na organização em locais de trabalho, estudo, moradia etc., e em lutas, como as do dia 13 próximo, que tem como agenda principal a educação e a previdência, e ir pautando e acumulando no “Fora Bolsonaro”, inclusive nessas lutas. Entendo que esse deva ser o centro tático agora.

O outro argumento usado no texto publicado pelo PCO é totalmente falacioso e dá a impressão de que não leram o texto por completo, simplesmente pinçaram trechos de seu interesse para um raciocínio já pré-estabelecido. O texto alega que a posição implícita no texto que escrevi é a de esperar o apoio da burguesia, ou de uma fração sua, para trabalhar pelo Fora Bolsonaro.  Não é verdade. Em primeiro lugar, em uma análise concreta não se pode desprezar as divisões e conflitos internos do inimigo para avaliar a correlação de forças. Foi esse o contexto da frase: “não vejo nenhuma fração expressiva das classes dominantes com disposição, por ora, para tirá-lo do governo e tampouco condições para isso”. Afirmação que veio logo em seguida da argumentação de que Bolsonaro ainda conta com o apoio amplo da coalização golpista. Em segundo lugar, a lógica do texto é justamente a de criticar qualquer perspectiva que coloque a esquerda como caudatária ou aliada de um setor das classes dominantes em qualquer cenário.

Para ilustrar isso, coloco aqui um trecho do texto, que cita um dos cenários possíveis ( embora, a meu ver, não o mais provável no momento): “Em outro cenário, em que não haja ascenso significativo da mobilização popular, mas uma parte das classes dominantes decidir em apear Bolsonaro do governo, devemos incidir para ampliar a crise, abrindo espaço para o crescimento da mobilização popular. Isso requer que não fiquemos a reboque de uma das frações da classe dominante, que deixemos nítido que o que interessa ao povo é Fora Bolsonaro/Mourão e seu programa, a libertação de Lula, a realização de eleições livres e democráticas. Sem isso, a crise económica, social e política persistirá.  Ou seja, mesmo se não houver condições para impor uma saída popular e democrática, agirmos com uma posição política de independência.”  E reitero, a saída que nós precisamos construir passa por uma intensa e enorme mobilização popular. Uma saída por cima e exclusivamente institucional favorecerá uma saída conservadora.

 

 

Marcos Jakoby

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